Primavera do Leste, em Mato Grosso, deve colher menos milho nesta safra 2020/21. O ataque de pragas e a seca são apontados como os fatores da possível queda de produtividade do cereal no campo, principalmente nas lavouras cultivadas fora da janela ideal, deixando os agricultores da região apreensivos.
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Às vésperas do início da colheita, o produtor Ildebrando Gilmar Coradini acompanha de perto o desenvolvimento final dos últimos talhões da lavoura de milho na propriedade, em Primavera do Leste. Algumas áreas foram prejudicadas por uma estiagem de quase 30 dias no final do ciclo da cultura e a estimativa é de queda no rendimento da plantação.
“O ano passado a gente colheu 130 e esse ano vai dar uns 30 sacos a menos de média, uns 20 % de perdas. Uma diferença que preocupa bastante por conta dos contratos, eu fiz 45% de contrato”, conta Coradini.
Nos milharais do agricultor Ari José Ferrari, o estresse hídrico foi mais intenso, com 40 dias de sol com baixa umidade no solo no período mais importante da planta, enchimento dos grãos. Com quase metade dos 2.250 hectares colhidos, o agricultor já contabiliza perdas significativas na produção.
“Tem talhão que a gente colheu e deu 60 sacos, enquanto outros deram 80 sacos, mas, o investimento era alto, para colher 120 sacos”, relata Ferrari.
Com os prejuízos causados pela seca, Ari José Ferrari diz que tem áreas de sua lavoura de milho que não valem a pena o esforço para colheita.
“30% que não vai passar a máquina, não vai colher, não vai dar nada. O óleo está caro e se é para colher dez sacos por hectare não fecha a conta, vendemos 17%, não entregamos nada. Desse percentual que a gente tem pra entregar acho que vamos conseguir honrar, mas a rentabilidade, se tiver, vai ser pouca”, complementa Ari José Ferrari.
De acordo com o presidente do sindicato rural de Primavera do Leste, Marcos Bravin, nesta safra foram cultivados cerca de 700 mil hectares de milho na região e a estimativa de perdas de produtividade no campo pode passar dos 30%.
“Tivemos um ano atípico. Começamos plantar esse milho em meados de fevereiro, na época começou chover muito forte, atrasando o plantio que terminou em meados de março. Em seguida veio ataque de percevejo barriga verde, também esse ano teve a tal da cigarrinha que tirou o sono de todos os produtores daqui da nossa região, onde foram feitas de 4 a 10 aplicações não controlando totalmente essa praga, trazendo muitos danos e estragos a nossa lavoura, a expectativa era produzir igual o ano passado uma média de 113 sacos por hectare, mas esse ano deve produzir de 75 a 80 sacas por hectare”, destaca Bravin.
Na avaliação do presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadoré, com uma safra abaixo do esperado, o custo do produtor deve aumentar. Por isso, ele recomenda cautela ao produtor de milho.
“Vai ser uma safra bem abaixo do esperado, então obviamente isso causa impactos, as contas não vão ser as mesmas feitas antes. O produtor agora tem que ter cautela, terminar de colher avaliar o que fazer. O que tem que imperar nesse momento é o bom senso”, reforça.
Tecnologia contra perdas nas lavouras
A tecnologia de maquinários tem sido fundamental para minimizar os custos no campo. O coordenador do centro de treinamentos da Vence Tudo, Luís Fernando Voigt destaca uma novidade para os produtores, a plataforma conhecida como Bocuda.
“Ela traz excelente o custo-benefício com relação há vários fatores, dentre eles a menor entrada de palhas dentro do sistema da colheitadeira, o que reduz em até 10% o consumo de combustível. Ela ainda atua no sistema de despigamento da planta e também os sensores automáticos de altura, o que contribui para que a máquina traga benefícios para o agricultor.
Esperança de uma safra de milho melhor
Com as perdas irreversíveis na última temporada, o presidente da Aprosoja Brasil Antonio Galvan espera que a safra de milho em 2021/22 traga melhores resultados para os produtores.
“Vamos torcer para que São Pedro seja mais generoso e a gente consiga estabelecer uma safra normal no próximo ano que começa agora com o plantio da soja e posteriormente na segunda safra com milho, que tenhamos uma safra melhor. O custo que se elevou dos fertilizantes e dos insumos não viabiliza mais renda para o produtor. Esperamos a situação se normalize, para que todas as cadeias consigam sobreviver, pois todas são importantes na produção de alimentos”, destaca.