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Morte de prefeito expõe disputa de terras no país

Acidente aéreo matou o prefeito de Central de Minas no último dia 14. Veículo caiu a metros de um acampamento do MST, que alega ter sido atacado pelo político. Tragédia marca mais um capítulo na longa briga entre sem-terra e produtores.

A morte do prefeito de Central de Minas, Genil da Mata, tem como cenário mais uma disputa de terras no país. O avião em que da Mata estava caiu no último dia 14, em Tumiritinga (MG), após sobrevoar um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que ocupa a Fazenda Casa Branca, de propriedade do político. O clima de tensão ocorria há dias e a queda do avião foi o ponto final de uma tragédia anunciada.

O MST afirma que o motivo da queda foram os voos rasantes da aeronave em que o prefeito ocupava, acompanhado de outro avião.  Os invasores relatam que os dois veículos jogavam bombas nas barracas da ocupação. Uma das hipóteses da queda era de que o avião foi abatido, porém, segundo perícia preliminar da Polícia Civil de Conselheiro Pena, não há marcas de tiros no avião e nem nos corpos encontrados. 

Segundo a defesa de Genil da Mata, o político estava sobrevoando a propriedade para fotografar a área invadida, para que pudesse entrar com um pedido de reintegração de posse com mais provas. Além do político, o funcionário Douglas Silva faleceu no acidente.

– Todas as vezes que ele [Genil] tentou diálogo, não conseguiu. Expulsaram ele e os trabalhadores. É mentiroso e equivocado o que o MST disse sobre o ataque e sobre ele não ser o dono da propriedade.  Eu tenho como provar, às 13h20 eu mandei uma mensagem para ele pedindo imagens da área ocupada. Hoje estamos digitalizando as certidões para entrar na Justiça – comenta o advogado Siranides Gomes.

O coordenador estadual do MST de Minas Gerais, Cristiano Meirelles, diz que sempre houve espaço para diálogo. Meirelles reforça que o objetivo da invasão é pressionar o poder público a negociar a desapropriação de terra. O coordenador lembra que o próprio prefeito havia dito do interesse em negociar.

– O terreno tinha características de improdutividade e o Incra ia avaliar as condições da propriedade, para negociar a compra da terra. Desde o primeiro dia tivemos disposição de negociar, mesmo ele não provando ser o titular da terra. Tanto que haveria uma negociação hoje [dia 15] – comenta o coordenador.

Segundo o Incra, uma audiência entre governo de Minas Gerais, Incra, Genil e MST estava prevista para ocorrer nesta quarta, dia 15, às 9h, porém o acidente interrompeu o diálogo. A defesa do prefeito morto entrará com um pedido de reintegração de posse no Tribunal de Justiça de Minas Gerais nos próximos dias e pretende retomar o controle da fazenda.

O superintendente regional do Incra em Minas Gerais, Gilson de Souza, afirma que havia uma negociação para garantir o fim do impasse. Após se reunir com os invasores nesta quarta, dia 15, o superintendente disse que o MST colocou três condições para sair do terreno.

– Depois dessa tragédia, conversamos com os trabalhadores sem-terra, que nos colocaram três condições para desocupar a área. A primeira é que Polícia Militar garanta a segurança deles, que o governo estadual promova uma ajuda de custo e que o Incra faça monitoramento constante na região.

Disputa

A briga pela posse da terra se acirrou desde o primeiro dia de invasão, em 5 de julho. Cerca de 300 famílias ocuparam a propriedade de 1500 hectares, que, segundo o movimento, tinha características de improdutividade. O MST acreditava estar invadindo uma fazenda da empresa de celulose Fíbria, mas o terreno já pertencia a Genil da Mata. Inclusive, o advogado do político, Siranides Gomes, confirma que o terreno já tinha mudado de dono há, pelo menos, dois anos.

– Nós achamos que a negociação seria com a empresa. Depois é que o cidadão apareceu se identificando como dono da terra – lembra Cristiano Meirelles, do MST.

Em menos de 10 dias, os ânimos foram se acirrando e as versões ficam conflitantes. O advogado Siranides Gomes explica que o prefeito tentou negociar com os invasores, mas, na primeira tentativa, no dia 8 de julho, Genil da Mata e seus funcionários foram expulsos.

Dias depois, ocorreu um ataque à ocupação. Na madrugada do último dia 10, os trabalhadores sem-terra acusam o prefeito de mandar dois tratores blindados, apelidados de “caveirão”, entrarem no acampamento. Segundo eles. 12 homens dispararam rojões na direção das pessoas. Na hora da fuga, um trator ficou atolado e foi abandonado no local [veja as fotos deste texto].

A Polícia Militar de Governador Valadares recebeu o chamado do MST e foi ao local. Lá, eles encontraram o trator abandonado e, dentro dele, havia diversos rojões e máscaras de gás [veja as fotos do texto]. Um policial que pediu para não se identificar confirma o clima de tensão.

– Recebemos o chamado na madrugada [do dia 10], quando chegamos lá encontramos os fogos próximos à linha férrea da propriedade. Na hora do acidente [do dia 14], recebemos outro chamado, relatando os voos rasantes – relembra.

O superintendente do Incra de Minas Gerais falou que o instituto tinha disposição em negociar a compra do terreno. Para Gilson de Souza, a morte foi uma tragédia sem explicação.

– Eu conhecia o Genil, era um político jovem e promissor. Até, em conversa com outros prefeitos da região, ninguém entendeu até agora os motivos da tragédia. É uma pena – comenta.

Acidente

Na tarde do último dia 14, o prefeito Genil da Mata entrou em uma aeronave modelo Pelican 500BR e seguiu para o local da invasão, em Tumiritinga, a 150 km da cidade que ele administrava, Central de Minas.

O advogado do político lembra que o último contato com ele foi às 13h20, quando orientou para que ele tirasse fotos da área invadida. O avião caiu por volta das 17h. Em entrevista a jornais da região, a coordenadora do acampamento, Neurilane de Souza, afirma que outra aeronave acompanhava o avião em que estava Genil, mas que foi embora após a queda do veículo. A aeronave em chamas mostrava que o número de identificação foi coberto com fita isolante.

O avião em que Genil da Mata estava não era de propriedade do prefeito. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o veículo com matrícula PU-OVC estava no nome de Celso José Hans. O registro da aeronave estava como experimental, que possui certas restrições, como realizar voo comercial de passageiros e bens; sobrevoar áreas povoadas e podendo apenas trafegar em regiões orientadas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).

O prefeito vem de uma família dona de uma rede de postos na região. Na prestação de contas da eleição de 2012, Genil havia declarado a propriedade de um ultraleve Vans Aircraft RV9 A, no valor de R$ 95 mil. A defesa de Genil da Mata disse que não irá se manifestar sobre o acidente aéreo.

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