Em Mato Grosso, caminhoneiros autônomos denunciam exploração de transportadoras nas negociações de frete e cobram uma remuneração mais justa. Com esse impasse, quem sofre são os produtores rurais, obrigados a enfrentar a falta de caminhões e de espaço para guardar a produção de milho, como é o caso do agricultor Everson Cossetin, que teve que diminuir o ritmo de escoamento da safra.
Segundo ele, um dos motivos, é justamente a falta de caminhão para transportar os grãos comercializados. “É um caos, pois já fizemos uma programação de embarque deste produto e os nossos armazéns já estão cheios. Nós tentamos conseguir algum caminhão no mercado, mas está havendo uma divergência nesses valores de frete, já que as transportadoras querem um valor, as tradings querem pagar outro e essa etapa do processo fica travada, onde quem acaba pagando somos nós, os produtores rurais”, disse.
Já o agricultor Jaime Coradini fechou cinco contratos de venda para conseguir lugar para guardar o resto da produção, o que acabou desvalorizando o produto. A cooperativa que ele entrega grãos, no entanto, recebeu um volume menor de soja nesta safra, abrindo mais espaço para o milho. “Foi um tiro que saiu pela culatra. Com essa discussão, parou tudo, e os armazéns ficaram cheios de soja, sem lugar para o milho. Antes da greve, tínhamos mercado futuro bom, mas agora virou uma porcaria, porque não tem caminhão e está refletindo no plantio da soja por conta da entrega de adubo”, lamentou.
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Jaime disse que queria fazer uma entrega de milho no armazém disponível, mas a falta de espaço fez com que ele fizesse um contrato novo para poder arrumar um lugar. “O milho na lavoura é muito perigoso por causa do fogo. Não podemos optar por isso”, disse.
O presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, José Nardes, afirma que o transtorno causado pelo tabelamento do frete vai encarecer o transporte e comprometer a produtividade da próxima safra de soja.”Eu não acredito que nós vamos ter condições de retirar todo o adubo e semente até o início do plantio, alguns vão atrasar porque ficou insuportável pagar um frete de Paranaguá, de onde vem todo nosso adubo. Isso prejudicou muito e nós vamos ver isso em setembro, outubro, porque não foi retirado ainda 50% do adubo que vai ser usado em Mato Grosso”, disse.
Inconformado com o preço mínimo do frete, Nardes acredita que muitos caminhoneiros não vão seguir o tabelamento. Segundo ele, já existe negociação fora da tabela. Para o presidente da Aprosoja-MT, Antônio Galvan, os próprios caminhoneiros estão reconhecendo o prejuízo que isso trará.
“Agora vamos acompanhar o que vai acontecer. Como a lei saiu, vai ter que ter um piso mínimo, mas seria um piso do custo do frete, então o lucro vai ter que jogar sobre a negociação e acreditamos que os caminhoneiros também terão dificuldade, principalmente o autônomo”, contou.
“Quem leva é a transportadora, que fica com até 70% do valor do frete. Desse pouquinho, ainda há o desconto de Senat [Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte] e seguro de carga”, criticou o caminhoneiro autônomo Luiz Roberto da Costa Alves.