O clima em 2015 foi marcado por um El Niño que entra para a história como um dos mais fortes. O fenômeno trouxe impactos diretos nas estações do ano e consequentemente nas lavouras. O inverno teve recordes de calor e a irregularidade das chuvas atrasou o plantio de diversas culturas.
Os problemas começaram já no início do ano com a falta de chuva nas áreas produtoras de café do Sudeste do Brasil. “A falta de chuva ocasionou a antecipação da florada, que não pegou. Em janeiro, quando os frutos estavam em granação, não choveu, causando mais problemas”, lembra o engenheiro agrônomo Celso Scanavachi.
Segundo os meteorologistas, janeiro foi mais seco do que o normal, o que agravou a situação que já era complicada, já que os últimos dois verões tiveram chuva abaixo da média.
“O que chamou a atenção é que posteriormente, durante o outono, a chuva apareceu. Tivemos problemas com a safra durante o verão, principalmente no Centro-Oeste, mas, para a segunda safra, a produtividade foi boa justamente porque, a partir de março, tivemos chuvas mais frequentes. No meio do ano foi caracterizada temperatura acima da média. El Niño começou a se manifestar com chuvas mais fortes no Sul e temperaturas acima da média. Só que, justamente quando chegou setembro, tivemos uma única onda de frio mais intensa, mas que acabou pegando as lavouras na situação mais vulnerável. E as geadas trouxeram prejuízos à região”, explica Scanavachi.
O inverno mais chuvoso e quente do que o normal trouxe danos para as pastagens e lavouras de trigo. A giberela, um fungo que ataca as flores e impede a formação do grão, se aproveitou do clima úmido e com temperaturas mais elevadas para atacar as lavouras do Sul. A doença acabou com um terço da produção no Paraná.
As chuvas, que costumam chegar com regularidade na parte central do Brasil em outubro, só atingiram as áreas norte de Mato Grosso e também a região do Matopiba em novembro. Muitos produtores de soja tiveram que fazer o replantio ou até desistiram de investir no grão com medo de perder a janela ideal para a segunda safra de milho. O calor acima da média também foi um fator preocupante para os produtores. Outubro foi o mês mais quente já registrado na história do planeta, segundo a agência americana de clima NOAA.
Além do calor extremo, em outubro também houve registro de tornados no Paraná. Ventos de 115 km por hora atingiram o oeste do estado no dia 9. A região é produtora de aves e teve prejuízos com a morte de 15 mil animais em uma só propriedade. O fenômeno aconteceu de novo no dia 19 de outubro em Marechal Cândido Rondon e deixou 20 pessoas feridas. A zona rural de Chapecó também registrou estragos.
Já os meses de novembro e dezembro foram marcados pela irregularidade das chuvas no Centro-Oeste e Nordeste e excesso de umidade no Sul. O plantio de arroz e da soja foi prejudicado, principalmente no oeste do Rio Grande do Sul, onde a chuva foi intensa. Outras culturas de verão também não foram finalizadas em parte de Mato Grosso por causa do tempo seco. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reduziu em um milhão de toneladas a estimativa desta safra.
2016
Para este verão, os modelos indicam um enfraquecimento do fenômeno, mas os impactos ainda devem ser sentidos nas lavouras. Segundo o engenheiro agrônomo Scanavachi, o El Niño enfraquece, mas não imediatamente.
“Com isso, as chuvas podem ficar mais irregulares, o que deve impactar no Centro-Oeste e no Sudeste. No Matopiba também há uma expectativa de maior regularização, mas a quantidade de chuva, por exemplo, não seria suficiente para alcançar a média histórica”, diz.
Para o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Marcelo Schneider, o ano de 2016 será marcado pelo La Niña: “A partir de julho ou agosto há possibilidade de La Niña, o que reforça condições para frentes frias. Além de grande possibilidade de geada”.