Um novo material híbrido de braquiária, conhecido como brachiaria híbrida Mavuno, criado em laboratório, se mostrou altamente resiliente a estresse hídrico e solo pobre em nutrientes.
É o que revela estudo do grupo de pesquisa em Ecofisiologia de Plantas Tropicais do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP). , de acordo com reportagem publicada pelo Jornal da USP.
Utilizada como alimento para o gado no pasto, a braquiária é uma planta forrageira originária da África e trazida ao Brasil na década de 1960. Usada inicialmente no Cerrado, tomou espaço e é conhecida hoje como a maior fonte de alimento para os bovinos na produção de carne e leite.
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Este novo híbrido, proveniente do cruzamento das espécies Brachiaria brizantha x Brachiaria ruziziensis é o resultado de 18 anos de pesquisa e desenvolvimento genético. O estudo foi feito pela empresa Wolf Sementes, com sede em Ribeirão Preto (SP).
Criada com o intuito de ser resistente às secas, a planta tornou-se uma opção para os produtores e pecuaristas. Sua alta resistência a períodos de estiagem é atrelada às suas raízes mais longas que as da maioria das braquiárias cultivadas no Brasil. Assim, permite que busque água em camadas mais profundas da terra e gerando maior eficiência.
Além disso, é responsável também pela produtividade elevada em comparação a outros tipos de forrageiras, devido a seus maiores níveis nutricionais.
Pesquisa sobre braquiária
O grupo de pesquisas em Ecofisiologia de Plantas Tropicais possui 20 anos de existência e tem como objeto de estudo as mudanças climáticas e seus impactos na performance das plantas forrageiras.
Segundo o biólogo Eduardo Habermann, o experimento colocou à prova esse novo híbrido de braquiária que, apesar de bem aceito no mercado, carecia de estudos fisiológicos.
“Nós resolvemos colocar a espécie em teste e ver de fato o quão resistente ela é e quais mecanismos fisiológicos podem estar associados a isso “, conta Habermann.
O estudo foi feito com plantio em vasos e não no campo por um curto período simulando épocas de seca.
“A experiência consistiu em deixar metade das plantas irrigadas de maneira constante e a outra parte teve o suprimento de água cortado após 30 dias, diminuindo sua umidade, forçando assim um estresse hídrico nessas plantas. Por ser no vaso, foi uma condição artificial que levou as plantas a uma seca muito mais rápida e intensa do que normalmente se encontra em um ambiente natural,” explica.
Nesse período de seca, o estudo acompanhou a fotossíntese das plantas até chegar a zero, além de outros parâmetros fisiológicos. Em seguida, houve a retomada da irrigação com o objetivo de acompanhar o padrão de recuperação para entender como, em que velocidade e se essas plantas conseguem se recuperar.
Logo após, houve a criação, dentro da divisão entre plantas irrigadas e não irrigadas, de subgrupos. Em ambos os casos, havia braquiárias que receberam fertilização de NPK, principal composto da agricultura à base de nitrogênio, fósforo e potássio. O outro subgrupo, contudo, não recebeu a fertilização, criando um ambiente mais complexo e estressante.
A hipótese era de que as plantas não fertilizadas teriam uma menor capacidade de se recuperar do evento de seca.
“A gente sabe que a pastagem quando não está bem fertilizada, o solo não está bem manejado, a produtividade vai ser bem menor. Isto é o que acontece com a maior área de pastagens no Brasil.” Levantamento da Embrapa aponta que cerca de 80% das áreas de pastagem possuem algum nível de degradação.
Braquiária resistente
Os resultados confirmaram a característica da espécie ser resistente ao estresse abiótico, ou seja, submetida à seca e com baixo nível de nutrientes. “Apesar da produtividade ser menor pela deficiência de nutrientes, a capacidade de resiliência da planta é grande.
Outra característica é que essa espécie híbrida tem raízes fortes capazes de captar água em camadas mais profundas do solo. Além disso possui um sistema fotossintético e resistente, possibilitando uma recuperação acelerada e a diminuição de áreas de pastagens degradadas”, diz Habermann.
A orientação do estudo se deu pelo professor do FFCLRP Carlos Alberto Martinez y Huaman. Segundo ele, um dos problemas da pecuária brasileira é a falta de biomassa para alimentar o gado nos períodos de estiagem e que qualquer alternativa é bem-vinda. Contudo, ele pontua que os estudos devem continuar, desta vez com o plantio no campo. Assim, testando os efeitos combinados da elevada temperatura e o estresse hídrico em experimento de simulação climática futura.
Além disso, o coordenador técnico da Wolf, Edson de Castro Júnior, afirma que as novas sementes são um grande aliado no combate do aumento das temperaturas no campo e com o poder de rebrote rápido da planta a volta dos animais ao pasto virá rápida.
“Essa tecnologia aliada ao manejo gera rentabilidade e uma economia importante no bolso do pecuarista”, conclui.