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Pesquisadores avaliam mortalidade de abelhas no Brasil

Apicultores brasileiros têm registrado perdas de abelhas em suas colmeias nos últimos anos

Fonte: Fabiano Marques Dourado Bastos/Embrapa

Em São Paulo e Santa Catarina, houve casos de enfraquecimento, declínio e colapso das colônias de abelhas. Resultados das ocorrências analisadas por pesquisadores da Embrapa indicaram que a mortalidade não estava associada a organismos causadores de doenças ou parasitas.  Somente dois casos apresentaram características semelhantes à síndrome Distúrbio do Colapso das Colônias, conhecida pela sigla em inglês “CCD”, problema que preocupa os Estados Unidos e países europeus. Ainda assim, em ambos os casos brasileiros não foram definidas as causas.

Entre os sintomas da CCD, destacam-se a rápida perda de abelhas operárias, evidenciada pelo enfraquecimento ou morte da colônia com excesso de crias em comparação ao número de abelhas adultas; ausência de crias e de abelhas adultas mortas dentro e fora das colmeias. Outra característica do distúrbio é a inexistência de indícios de pragas, como traças, por exemplo, o que indicaria uma invasão imediata da colmeia.

O trabalho tem como objetivo compilar alguns dos estudos mais relevantes relacionados às possíveis causas de perda e enfraquecimento de colônias da abelha-europeia (Apis mellifera) e também de espécies de abelhas nativas do País.

O mundo inteiro tem registrado o desaparecimento crescente de colônias de abelhas, especialmente da abelha-europeia, espécie mais utilizada para a polinização de plantas cultivadas, que se adapta facilmente a diferentes ecossistemas, formas de manejo e é generalista na busca de recursos. Com outros insetos e animais, as abelhas têm responsabilidade direta no aumento da produtividade agrícola, pois cerca de 70% das plantas utilizadas no consumo humano dependem de polinização.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Carmen Pires, especialista em ecologia de pragas e primeira autora do artigo, o desaparecimento de abelhas no mundo é resultado de diversos problemas, entre os quais se destacam o uso de agrotóxicos; a perda dos habitats em decorrência dos diversos usos da terra; patógenos e parasitas que atacam as colônias e as mudanças climáticas.

No Brasil, conforme explica Carmen, a situação não é diferente e a perda de colônias aponta para os mesmos problemas enfrentados em países da Europa e nos EUA, locais em que a CCD já foi comprovada. Para reverter esse quadro, os especialistas recomendam como urgente a criação de programas de levantamento sistemático de sanidade apícola associada a avaliações dos impactos de fragmentação dos habitats e das práticas agrícolas, especialmente a aplicação de agrotóxicos, sobre as comunidades.

Não existe no País um sistema de monitoramento das colônias nos apiários e no ambiente natural. O autores apontam para a necessidade premente de estudos que ampliem e aprofundem as avaliações entre as possíveis causas de mortes das abelhas em todas as fases de seu desenvolvimento.

Foram observadas mortes de abelhas em áreas próximas às lavouras submetidas à aplicação de agrotóxicos, mas também em locais completamente afastados. Segundo os autores dessa revisão, esse fato pode indicar que além dos efeitos diretos dos produtos químicos nesses insetos, pode haver interação com patógenos na natureza.

No Brasil, existem cerca de 1.700 espécies de abelhas, entre as quais, muitas que podem atuar como polinizadoras em 89% da flora nativa. De acordo com os autores, uma das soluções para atenuar esse problema é ampliar as observações sobre a suscetibilidade das abelhas nativas aos diferentes produtos usados hoje na agricultura brasileira.

Apesar de não confirmar a ocorrência da CCD no Brasil, o estudo deixa claro que o risco é iminente porque muitos dos fatores associados ao colapso são encontrados hoje no País. Para os autores, a situação no Brasil é bastante preocupante. Cerca de um terço do território nacional já foi modificado, o que levou à perda de grandes áreas de vegetação natural. Somado a isso, possíveis impactos da fragmentação de habitats sobre as comunidades de abelhas não têm sido devidamente avaliados. 

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