Representantes de entidades de criadores de gado leiteiro e produtores de leite se uniram nesta terça-feira (29) para começar uma campanha que busca chamar a atenção para a crise do setor no Rio Grande do Sul. O ato acontece durante a Expointer, maior feira agropecuária do estado, e busca cobrar que o governo tome medidas de apoio e contra importação de lácteos.
Os produtores colocaram uma faixa no pavilhão de exposição leiteira com os dizeres: “Crise no leite: produtores pedem socorro”. Para eles, o número de desistências na atividade chega a 70% em 10 anos. Restam apenas 30 mil produtores no estado.
“Só que hoje não dá mais. O que nós estamos recebendo de um litro de leite não cobre nosso custo”, disse o produtor de leite Paulo Ferraboli. “A família e os filhos estão pensando em parar, ir pra cidade. Vamos ter que parar ou entregar as terras para os bancos”.
O Rio Grande do Sul foi impactado por duas estiagens seguidas que aumentaram os custos de produção. Paralelo a isso, o ciclone de julho acentuou os prejuízos. Desse protesto a ideia é que um documento conjunto seja construído entre o setor e entidades do agronegócio gaúcho pedindo aos governantes medidas como menos importação e incentivos à produção.
A Associação de Criadores do Gado Holandes aponta que o custo de produção médio está em R$ 2,25 no estado e o preço médio pago ao produtor está em R$ 2,17. Uma conta que não fecha.
“Estamos falando em setor. Não estamos falando em política, não estamos falando em partidos, em a ou b, estamos falando que o produtor de leite está morrendo. Os números estão aí. Quanto tempo nós aguentamos apanhar?”, disse o presidente da Gadolando, Marcos Tang.
“Onde entra a importação nessa nossa reclamação? Ela foi a gota d’água num copo que já estava cheio de problemas da cadeia como um todo”, completou.
Recentemente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), anunciou que vai comprar o equivalente a R$ 200 milhões em leite em pó de agricultores familiares para aliviar a situação.
“Nós já estamos com o processo bem adiantado, vamos fazer essa compra, vamos oferecer um preço melhor aos agricultores enquanto a gente ta fazendo outras ações também com o bloco dos países do Mercosul que é de onde vem a grande quantidade de leite”, disse o presidente da Conab, Edegar Pretto.
“Nós temos uma relação especial que nós respeitamos porque o Mercosul é bom para os países que vendem para nós mas também é bom para os países que a gente vende”, concluiu.
Ferraboli, no entanto, não acredita que as medidas anunciadas pela Conab sejam suficientes para salvar a atividade. “Pra que importar tanto leite de fora se aqui tem leite suficiente? O que querem? Querem acabar com o produtor? Só vão notar quando as prateleiras estiverem todas vazias. Aí será tarde demais”, disse.
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