A proposta de acordo entre o Mercosul e a União Europeia para livre comércio apresentada na última quarta, dia 11, desagradou dois grandes setores do agronegócio. Por meio de nota oficial, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA) demonstrou “grande indignação pela exclusão inicial do etanol, bem como do açúcar, da oferta apresentada pela União Europeia (UE)”. A reação da ÚNICA foi bem parecida com a da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne – ABIEC – que considerou “decepcionante o fato de que nenhum quantitativo de cotas de acesso a este produto ter sido oferecido pelo lado europeu nesta troca de ofertas.”
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo – atualmente exporta para 136 países – e, segundo a ABIEC, “cumpre todas as altas exigências sanitárias requeridas pela Europa”. Para o setor, desde 2008 o volume de exportações de carne bovina com destino à União Europeia caiu consideravelmente em “virtude de barreiras tecnicamente injustificáveis”.
Com o impasse, a associação coloca a responsabilidade na diplomacia brasileira para considerar a inclusão da carne bovina no acordo, já que o produto tem papel central nas exportações dos quatro países membros do Mercosul. “As restrições ao comércio penalizam unicamente os mais de 500 milhões de consumidores europeus que podem ver a carne bovina se tornar um produto cada vez mais caro e raro em seus lares. E o declínio do consumo pode ser o revés do lobby que hoje argumenta contra a abertura do mercado”, disse a nota.
Já o comércio de açúcar tenta focar nos benefícios do etanol na redução da emissão de CO2 em comparação à gasolina. Para a ÚNICA, a utilização do combustível pela União Europeia teria “papel fundamental para que o bloco europeu atinja suas ambiciosas metas climáticas de redução de emissões de carbono no setor de transporte assinadas durante a COP21”. A entidade ainda criticou as tarifas impostas para a comercialização do açúcar brasileiro.
“O açúcar brasileiro, por sua vez, ainda sofre uma tarifa de importação absolutamente proibitiva, da ordem de 98 euros por tonelada, o que faz com que o produto represente menos do que 3,5% do volume consumido no continente”, analisou.
A UNICA disse ainda que “já manifestou esta preocupação ao governo brasileiro e espera um papel atuante dos representantes para um bem-sucedido acordo”. As ofertas entre Mercosul e União Europeia ainda serão analisadas para serem debatidas em uma próxima reunião.