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Agricultura

Projeto de chef ajuda a manter rede de agricultores familiares

Dona de restaurante no Rio de Janeiro compra direto de pequenos produtores no Amazonas, Bahia e Santa Catarina

Irmã caçula de uma família de seis filhos do escritor Gustavo Corção, Teresa Corção nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Formada em programação visual em Londres, mudou de carreira em 1981, ao juntar-se a uma das irmãs para coordenar a culinária do restaurante O Navegador, do qual é proprietária e chef executiva.

 

Há 16 anos, Teresa percebeu que seu trabalho como chef de cozinha poderia ter uma grande influência na sobrevivência dos agricultores locais, bem como em seus produtos alimentícios. E assim, para nutrir a agricultura familiar orgânica, ela fundou em 2007 o Instituto Maniva, organização não-governamental, pioneira em trabalhar a gastronomia como instrumento de transformação social.

 

A aproximação da agricultura familiar começou em 2002, quando entrou no movimento “slow food”, que prega o comer consciente de maneira prazerosa e com qualidade. A partir desse momento, a ecochef percebeu que podia iniciar uma mudança no escopo do seu trabalho interessando-se pela influência socioambiental ligada ao mundo da alimentação.

 

Em 2004, Teresa viajou para a Amazônia, cidade de Bragança (PA), lugar onde conheceu seu Bené e dona Maria, que trabalham na produção de mandioca e são professores da farinha. A ecochef resolveu fazer um filme-documentário sobre o modo de fazer farinha d´água. A partir desse encontro e dos resultados que vieram depois, Teresa percebeu que existia um potencial muito grande na parceria com a agricultura familiar.

 

A princípio não tinham recursos nenhum para fazerem o filme, mas mesmo sem condições fizeram o curta-metragem, que foi apresentado em uma palestra internacional realizada por Teresa. O filme-documentário foi mandado para o seu Bené e para a prefeitura de Bragança, que começou a promover essa cultura da farinha que estava esquecida e desmoralizada, principalmente a cultura da embalagem do paneiro de farinha feito com as folhas e talos da planta de guarimã, folha típica da Amazônia.

 

Teresa Corção começou a procurar outros chefs de cozinha para promover essa farinha d’água empaneirada, por considerar que era muito importante e que não podia deixar esse produto desaparecer. “Essa etapa foi muito difícil, pois muitos chefs de cozinha não tinham interesse em promover isso, e outros achavam o produto mais caro que o embalado em plástico”, conta.

 

Para preparar o produto de peneiro de farinha a pessoa tem que ter o conhecimento para tecer, forrar com as folhas e fechar o peneiro, um trabalho ancestral, o que torna o produto mais trabalhoso, mas preserva a sustentabilidade e a qualidade de vida.

Divulgação

Depois desse contato com a farinha d’água empaneirada, Teresa começou a pesquisar sobre a farinha de mandioca. A ecochef viajou para o Sul do país, perto de Florianópolis, onde conheceu dona Rosa, produtora de farinha de mandioca orgânica que começou a ser sua fornecedora. E foi a partir desse momento que o restaurante de Teresa Corção passou a ter alguns alimentos vindos diretamente dos agricultores familiares. Começou com três tipos de farinha: de Bragança, de Santa Catarina e de Copioba da Bahia.

 

A ecochef começou a visitar muitos agricultores familiares e notou que as mulheres rurais exerciam uma dupla jornada, pois eram esposas, agricultoras e donas de casa. “Notei que as mulheres do campo sabiam fazer toda a produção da agricultura e além dessa tarefa, muitas vezes, chegavam cansadas em casa por causa do trabalho na roça e tinham que trabalhar para o sustento da família, cozinhar e cuidar dos filhos”.

 

Teresa Corção passou a admirar muito essas mulheres rurais. “Eu acho essas mulheres muito guerreiras, muito fortes, não é à toa que nas cooperativas e nas associações as mulheres vêm conquistando seu espaço, tomando a frente e organizando. Elas não fogem à luta, não têm medo das dificuldades nem do comprometimento com o trabalho”, diz.

 

O Navegador

 

A admiração pelo trabalho exercido pelas mulheres rurais foi o que impulsionou a continuidade do trabalho da ecochef, que decidiu seguir pelo caminho da sustentabilidade e da qualidade de vida das pessoas. Foi o alicerce que usou na formação do seu restaurante. “Fui andando e formando meu restaurante com um grande diferencial, porque eu faço questão de ter no Navegador vários produtos da agricultura familiar”, destaca.

 

Os ingredientes dos pratos do Navegador têm carinho, alma, história e muito sabor. Teresa escolhe pequenos produtores da agricultura familiar de vários estados do Brasil, não só porque esses produtos são feitos artesanalmente, mas também por reconhecer o valor da mulher rural e desta forma poder apoiar a economia do país, ajudando a preservar o meio ambiente e a diminuir o êxodo rural.

 

Hoje Teresa Corção participa do grupo dos ecochefs, que fazem movimentos no Rio de Janeiro e buscam cada vez mais apoiar a mulher do campo. Teresa conta que pelas visitas que faz às agricultoras ela sempre aprende algo novo e que, apesar das dificuldades, ela segue confiante em apoiar e promover a mulher rural.

 

“A gente passa por dificuldade, muitas vezes não somos reconhecidas no meio da gastronomia, às vezes não percebem que isso é muito importante, não só como suporte para a agricultura familiar, mas como divulgação dos produtos da biodiversidade brasileira”, afirma.

 

Apesar de toda luta, Teresa vem colhendo os frutos do reconhecimento dos agricultores, além de gostar da simplicidade do campo. “Eu gosto muito do caminho da roça, acho que tem que promover muito o turismo rural”. Com isso, Teresa Corção reconhece o legado da mulher no campo. “A mulher rural é a força do campo. Sem ela não teria agricultura familiar. ”

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