Protestos dos caminhoneiros já prejudicam a agropecuária

Nos portos, as mercadorias estão chegando com atraso e provocando transtornos aos motoristas

Fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Embora tenham perdido força nesta quarta, dia 11, as manifestações de caminhoneiros preocupam o setor lácteo. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS), Alexandre Guerra, no momento o problema não é captar o leite cru das propriedades rurais, mas encontrar motoristas dispostos a levar o produto já industrializado para fora do estado.

“Estamos com dificuldade de conseguir caminhões, porque muitos profissionais não saíram de casa temendo vandalismo, ações de depredação, principalmente à noite. Quem não aderiu à greve tem medo de represálias”, explicou.

Mobilizados pelo Comando Nacional do Transporte (CNT), os grevistas começaram a protestar na última segunda, dia 9, pedindo melhores condições de trabalho e exigindo a saída da presidente Dilma Rousseff. Guerra lembrou que, na greve dos caminhoneiros ocorrida no início deste ano, as empresas associadas ao Sindilat/RS deixaram de receber 15 milhões de litros de leite para industrialização, pois não era possível captar o produto nas propriedades ou mesmo nos postos de resfriamento. Por ser perecível, boa parte deste leite cru estragou e foi descartado.

Portos

A greve dos caminhoneiros já causa impacto nas exportações de aves e suínos, diz a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Empresas relatam que caminhões ficaram parados em alguns pontos de bloqueio pelo país e a liberação, após algumas horas, impede que a carga seja entregue no porto no horário previsto. Esse atraso está causando transtornos.

Conforme a ABPA, são poucos os relatos de carga retida de ração e de animais vivos. “Entretanto, conforme informações também de nossos associados, é notada uma diminuição no movimento grevista”, destacou.

A entidade enfatiza que as liminares obtidas contra os bloqueios da greve dos caminhoneiros ocorrida em fevereiro deste ano pela ABPA continuam valendo. A ABPA reúne 139 associados entre agroindústrias produtoras e processadoras de carne de aves, suínos e ovos para consumo, além de entidades estaduais e setoriais dos vários elos produtivos. Juntas, as cadeias produtivas representam mais de R$ 80 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB) e US$ 10 bilhões em exportações, diz a entidade no comunicado.

Suínos

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), para o mercado de suínos, a questão é especialmente grave porque pode dificultar o escoamento da carne, neste momento mais competitivo em relação à bovina e a de frango. Além disso, nas próximas semanas, atacadistas devem iniciar a formação de estoques para o final do ano.

Do lado produtor, atrasos na entrega dos principais insumos utilizados na alimentação de suínos e aves (milho e farelo de soja) podem prejudicar a engorda dos animais e/ou elevar os custos de produção. Entre os frigoríficos, o receio é que, com possíveis atrasos no recebimento de suínos para serem abatidos, as vendas venham a se concentrar num mesmo período, elevando estoques e pressionando os valores.

Caminhoneiros convocam

O Comando Nacional do Transporte (CNT), grupo de caminhoneiros que tem organizado os bloqueios nas estradas, divulgou nota em sua página no Facebook convocando os motoristas a intensificarem as manifestações em função da negativa do governo em negociar. O texto, acompanhado por um vídeo, diz que as paralisações não acabaram e pede que os manifestantes levem máquinas agrícolas, além de caminhões, para os pontos de bloqueio.

“Não houve acordo algum com o governo, vamos retomar com toda força, as multas são inconstitucionais”, diz o texto. “Temos assessoria jurídica gratuita para quem por ventura for multado. Não se muda a constituição de um dia para outro”, afirma também. Em outra nota, o grupo classifica a Medida Provisória 699, que aumenta a punição para quem bloquear rodovias, como “cruel”. Diz ainda que políticos estão gravando vídeos “convocando o povo para a democracia”.