Integrantes do sistema financeiro estão preocupados com o financiamento da safra 2015/2016. Com a queda dos depósitos à vista, a disponibilidade de recursos está limitada. A fuga de aplicações da poupança para produtos mais rentáveis também tem sido um entrave. O receio é de que em 2016 se repita a situação observada no último trimestre (último do ano-safra 2014/2015), quando faltaram recursos para o pré-custeio em função de projeções frustradas de funding.
Ademiro Vian, diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), alertou que os depósitos que formam os recursos obrigatórios tem apresentado forte queda.
– Ontem, olhando os números, fiquei um pouco mais preocupado. Projetávamos R$ 37 bilhões oriundos dos bancos privados (recursos obrigatórios), mas eles estavam em R$ 28 bilhões – observou durante apresentação no seminário Financiamento ao Agronegócio, realizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), em Brasília (DF).
Os recursos à vista, que chegaram a representar 45,8% das fontes de recursos para financiar a produção em 2014, recuaram para 36,4%.
– Aqui está acesa uma luz vermelha – observou o diretor da Febraban.
Wilson Vaz de Araújo, diretor de estudos econômicos do Ministério da Agricultura (Mapa), no entanto, demonstrou otimismo:
– Como tem 30 dias que esses valores (do Plano Safra 2015/2016) estão vigorando, não dá para dizer que não vai acontecer. Só em dezembro poderemos ter uma ideia se vai faltar ou não – ponderou.
O executivo da Febraban desenhou um cenário complexo para o crédito subsidiado e relatou que não tem sido fácil a elaboração dos últimos planos-safra. Segundo ele, o anunciado neste ano foi diferente dos anteriores.
– Ele é um plano mais caro que os outros, porque trouxe alguns instrumentos como a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), que incrementou o total de crédito em R$ 30 bilhões. Esses recursos são a taxas de mercado, claro que não na ponta de cima, de taxas mais altas, mas não deixa de ser de mercado – afirmou.
Vian argumentou, ainda, que aumentar a exigibilidade – percentual dos depósitos à vista nos bancos que têm de ser direcionados para o financiamento agropecuário – perdeu o sentido. Essa obrigatoriedade, segundo ele, tem sido sobre uma base de recursos decadente e que perde volume a cada mês.
– Os recursos obrigatórios deveriam ter crescido com as mudanças de exigibilidade, mas isso não ocorreu. O principal pilar do crédito rural deu sinais de esgotamento e essa foi uma das dificuldades para esse Plano Safra, uma questão que vai se tornar mais difícil na elaboração do próximo plano – afirmou.
Acesso limitado
Dados da Febraban mostram que o crédito rural é altamente concentrado no Brasil. Segundo Vian, apenas 48,5% dos produtores tomam esses recursos para se financiar.
– Se ponderarmos que cada produtor tem mais de um contrato, em alguns casos até quatro, esse porcentual cai para algo ao redor de 28% – calculou.
O executivo também fez críticas à capilaridade dos bancos que oferecem crédito rural.
– Estamos, hoje, em situação de dificuldade de capilaridade para oferta de crédito rural. A quantidade de bancos, que era de 49 em 1999, agora está em 37. Nossa distribuição do crédito no país caiu significativamente – observou.
Ele disse, ainda, que a prioridade para o agronegócio brasileiro é ter preço, logística e infraestrutura.
– O crédito vem como combustível para essa máquina funcionar. É preciso priorizar a renda, revendo a política de preços mínimos – defendeu.
Ele argumentou que também é preciso rever os instrumentos de comercialização, implementar o resseguro do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e fez mais considerações:
– Precisa remodelar o seguro rural, descolar ele do crédito. Precisa eliminar as sobreposições para dar mais eficiência e governança ao Proagro tradicional, Proagro Mais e Seguro Rural – disse.
Vian também defendeu centralizar o pagamento de subsídios e criar um registro centralizado das operações.