Desde o final de setembro, o preço médio do petróleo recuou quase 30%, chegando a recuo de 40% se considerado o período desde junho. Os principais motivos para esta desvalorização são o aumento da produção nos Estados Unidos em quase um terço, a manutenção do nível atual de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a fraca situação das grandes economias internacionais.
– Nos últimos anos, com o aumento do petróleo, uma série de países começou a investir na produção, o que está fazendo com que agora a produção aumente nesses países. Por outro lado a gente tem visto uma desaceleração da demanda desde o segundo semestre desse ano por conta de um menor crescimento na China e de uma estagnação na Europa. Esses dois fatores tem ajudado a puxar os preços para baixo – afirma o analista de petróleo Walter de Vitto.
A situação traz oportunidades e problemas aos produtores rurais brasileiros, segundo o analista de agronegócio da MB Agro José Carlos Hausknecht. Entre os aspectos positivos está a possibilidade de os preços dos fertilizantes diminuírem, pelo fato de uma das matérias-primas do fertilizante ser a ureia, que precisa de petróleo para a produção. Além disso, ele cita a possibilidade de o preço do frete através do modal marítimo recuar e, caso o governo repasse a queda de preços do petróleo para o diesel, o que não é certo, o mercado interno também pode se beneficiar.
A China, que importa carne e petróleo do Brasil, pode aumentar as suas compras, devido à queda nos custos de importação.
– A lógica é uma pressão maior a favor do produtor. Um dos pesos das economias europeia e asiática é o custo da energia, importar muito petróleo, que estavam em valores muitos altos – disse o analista de mercado da Brandalizze Consulting Vlamir Brandalizze. De acordo com ele, commodities agrícolas são as últimas a serem afetadas quando há crises nos países.
Porém, países que têm no petróleo uma de suas principais fontes de renda, como a Rússia, podem sofrer impactos negativos e diminuir a importação de produtos do Brasil. A economia russa vem registrando sinais de enfraquecimento desde que o presidente Vladimir Putin decidiu anexar a Crimeia, território que pertencia à Ucrânia, em março. Países ocidentais, liderados por Estados Unidos e União Europeia (UE), decidiram aplicar sanções contra a Rússia, gerando fuga de capital do país, desvalorização do rublo, aumento da inflação e recessão econômica.
– Havia uma expectativa de mais compra da Rússia principalmente suínos e aves. Na verdade essa expectativa está se revertendo e não é fácil substitui principalmente carne suína. A Rússia maior exportador não é fácil conseguir um outro importador – disse o analista de agronegócio José Carlos Hausknecht.
Países do Oriente Médio e a Venezuela também tem a economia diretamente ligada ao petróleo. Com a redução de renda, as compras de carne devem cair; na Venezuela, também há risco de diminuição da importação de bois vivos brasileiros.
Segundo a analista pecuária Lygia Pimentel, existe a possibilidade de a Rússia importar 20% menos carne do Brasil no próximo ano.
– Eles vêm trabalhando a habilitação de novos frigoríficos brasileiros porque, na falta dos EUA e da União Européia para comprar carne, vêm procurar um pouco mais no Brasil. Pela situação econômica existe o risco de diminuir o volume, mas, ao mesmo tempo, pelas sanções eles vão precisar vir buscar aqui no Brasil – explica a analista.
No que se refere ao setor sucroenergético, não deverá haver muitas alterações, segundo a opinião do presidente da Datagro, Plínio Nastari.
– Provavelmente vai se manter o preço da gasolina e do diesel nos níveis atuais. Isso portanto faz com que não haja perspectiva de recuperação de preços do etanol que faz com que no curto prazo que as perspectivas de preço pelo menos no inicio de 2015 ainda sejam de manutenção do quadro atual – afirmou Nastari.
Para o comentarista do Canal Rural Miguel Daoud, o Brasil está vulnerável a este cenário internacional, pois uma queda constante no preço do petróleo pode levar a uma diminuição dos investimentos da Petrobras, colaborando para desacelerar a economia.
A opinião é compartilhada pelo analista de mercado Daniel Dias. Ele acredita que o agronegócio brasileiro será beneficiado no curto prazo, já que países como a China, por exemplo, terão seus custos diminuídos com a redução da cotação do petróleo e poderão comprar mais produtos brasileiros.
No longo prazo, entretanto, Dias considera que o setor será prejudicado porque toda a economia nacional será afetada com a alta do dólar, puxada pelo petróleo.
– A dívida da Petrobras está em dólar. e ela não vai conseguir dinheirto para se sustentar e oagar o s credores. Nessa conjuntura é que está o imbróglio, e o agro vai ser contaminado, principalmente porque isso afetará principalmente o sistema financeiro do país – sustenta o analista.