O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em uma apresentação no 35° Congresso da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), disse que a recuperação econômica pós-pandemia se mostrou diferente do esperado pelos analistas e governos.
“Houve um erro de diagnóstico econômico. No começo, com as pessoas em casa e os governos com programas sociais de enfrentamento à pandemia, o consumo de bens aumentou, e a inflação de bens também cresceu. No pós-pandemia, a demanda por serviços aumentou muito, e o equilíbrio entre a inflação de bens e serviços está mais difícil do que se esperava”, afirmou.
Ele também falou da mudança da meta de inflação no Brasil, “havia muito ruído em torno da mudança da meta de inflação no começo do ano, mas em muitos países ela fica em torno de 2% a 3%”.
Sobre o núcleo da inflação, Campos Neto afirmou que ele é mais resistente à queda, “e está caindo menos do que gostaríamos”.
A respeito da concessão de crédito no Brasil, houve uma desaceleração nos últimos anos no Brasil, mas em menor amplitude do que em outros países, e que aqui é mais difícil para os bancos recuperarem o que foi concedido.
“O Brasil tem uma enorme dificuldade de recuperação de crédito, por isso os juros são muito altos. Isso é devido, em parte, à recuperação ser judicial, o que torna o processo mais longo e caro”.
Do lado da confiança do consumidor, Campos Neto disse que ela vem aumentando nos últimos meses. “Há melhoras nos indicadores de confiança. A do consumidor é altamente ligada aos índices de inflação. A revisão de crescimento do PIB do Brasil feita pelo FMI foi a maior do mundo”.
Falando do governo, ele disse que o mercado não acredita que o compromisso de redução dos gastos públicos será cumprido, mas destacou que o Congresso e o poder Executivo tiveram êxito na aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária.
“O importante é a economia crescer com credibilidade. A forma de crescer mais sustentável é entender que o governo tem seu papel e ter respeito pelos processos de preços e mercados”.
Por fim, Campos Neto disse que o desafio de qualquer governo no pós-pandemia é equilibrar o lado fiscal com o social. “Programas sociais não devem ser somente assistencialistas, mas devem estimular o crescimento. Não se cresce somente com ajuda do governo, mas também com a ajuda da iniciativa privada. Governo tem que transmitir credibilidade no cuidado com as contas públicas”.
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