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Representante dos bancos tira dúvidas sobre crédito rural

Diretor-adjunto da Febraban, Ademiro Vian, esclarece o funcionamento das linhas de créditos e explica o motivo dos recentes atrasos na liberação de recursosO diretor-adjunto de negócio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian, respondeu as principais perguntas sobre o problema da falta de crédito rural nos bancos.

Fonte: Canal Rural

Segundo Vian, o modelo de operação dos recursos para essa linha de financiamento está antigo e precisa ser revisto. Isso pode garantir que esses problemas não ocorram novamente.

Confira:

Canal Rural: Existem recursos para o crédito rural?

Ademiro Vian: Tem recurso, mas está escasso. Bastante escasso. Porque os depósitos à vista dos bancos, que é a maior parte de recursos, está reduzindo. Porque os clientes estão retirando seus depósitos de conta corrente e fazendo aplicações financeiras, poupança e pagando contas. Ao tirar o dinheiro da conta corrente, reduz o dinheiro para o crédito rural.

CR: Você poderia explicar como essa movimentação da conta corrente impacta no crédito rural?

AV: Funciona assim: a Lei determina que os bancos são obrigados a destinar 34% da média diária dos depósitos à vista, que é a conta corrente, no caso, para o crédito rural. Se a pessoa tira o dinheiro da conta corrente, quando eu vou calcular esses 34%, eu não tenho dinheiro na conta corrente, então o cálculo seria 34% de zero.

A questão não é o quanto que o banco direciona, é se as pessoas deixam de ou não deixam o dinheiro na conta corrente. Toda vez que a pessoa tira o dinheiro, ela está tirando dinheiro do crédito rural. E se ela deixa na conta corrente, deixa para o crédito rural. Essa é a dinâmica de uma das grandes fontes de sustentação do crédito rural no Brasil. A outra grande fonte é a poupança rural, que apenas alguns bancos operam e a terceira fonte é composta por investimentos do BNDES, mas essa última só para investimento e não custeio.

CR: Não seria esse o momento de mudança desse sistema?

AV: Seria. Esse modelo existe há 50 anos, desde 1965. Era uma outra conjuntura, outra dinâmica da economia, havia uma quantidade grande de bancos, o mercado financeiro funcionava de uma outra forma. O nosso setor agro ele cresceu muito nesses anos, ele desenvolveu, tecnificou. Esse desenvolvimento demanda mais recursos.

Quanto mais você tem técnica no campo, mais dinheiro precisa. Ao longo desses anos, o depósito á vista se demonstrou muito importante, mas hoje ele não consegue mais atender minimamente as necessidades do setor. Hoje ele não é mais um bom alicerce para sustentar todo o financiamento do agro, como foi criado no passado.

Então tem que mudar. Precisa mudar. O momento é agora, porque esse modelo não se sustenta mais. Já existem instrumentos, mas eles estão segregados da atual política agrícola.

CR: Os principais relatos que recebemos são referentes ao Banco do Brasil. Com relação aos bancos privados, qual a participação deles nessa política do crédito rural? Eles também estão com problemas em liberar recursos?

AV: Todos os bancos estão com problemas para liberar o crédito, de uma forma geral. O Banco do Brasil tem um maior volume e maior rede de distribuição. É natural que ele tenha também maior participação no financiamento. É natural que venha esse retorno maior ao Banco do Brasil. Mas isso é geral. Se você olhar para os bancos cooperativos, eles vão buscar muito dinheiro nos bancos privados.

Então os bancos privados repassam o recurso para os bancos cooperativos, que emprestam para as cooperativas e para os produtores rurais. Mas a cadeia inteira está com dificuldade de financiamento.

CR: Como isso fica para próxima safra? Haverá montante para atender todos os produtores?

AV: Nós imaginamos que para a próxima safra o governo adote algumas medidas para complementar esses recursos do depósito á vista. Se persistirmos com esse modelo, a resposta é que teremos problemas para financiar. O tamanho desse problema vai depender da ação de quanto recurso será complementado com essa fonte e o custo desse dinheiro. Se não houver nenhuma nova fonte de recurso, haverá algum efeito no financiamento.

CR: Como o produtor deve agir caso não mude essa forma?

AV: Há algumas formas. Uma das formas é se financiar é através das CPRs (Cédula de Produto Rural), que é um título emitido pelo produtor e ele vende no mercado. A taxa de juros e o custo são maiores, mas é a única forma que ele tem.

Isso no caso de um produtor não cooperado. No caso de um cooperado, a cooperativa pode emitir papéis. Se o agricultor tiver dificuldade de tomar dinheiro no banco, com o capital de giro, a cooperativa pode emitir um CDCA (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio), ela emite um papel e busca dinheiro no mercado. Tem uma série de isenções tributárias, por exemplo, IOF, Imposto de Renda, porém a taxa não é igual à do crédito rural, é um pouco maior. Não é a taxa de mercado, mas é um pouco maior que a taxa do crédito rural.

CR: Existe o risco de alguma das linhas de crédito acabar?

AV: Não, no crédito rural não existe essa possibilidade, porque é custeio, investimento, comercialização. Isso continua. Tem linhas no BNDES que são muito específicas, Moderfrota, ABC, etc. Essas linhas vão depender de quanto o governo vai querer colocar de dinheiro a mais nessas linhas.

CR: A ministra Kátia Abreu colocou como possibilidade utilizar o crédito rotativo. Como ele funciona?

AV: O crédito rotativo não tem a ver com o assunto que estamos falando, que é o dinheiro. O crédito rotativo é um modelo operacional. Por exemplo, como funcionaria na prática? O cliente hoje ele vai ao banco e faz uma Cédula de Crédito Rural para custeio de milho, depois ele volta e faz para soja e depois faz para trigo.

Na realidade, ele tem três títulos de crédito. Para registrar essas três cédulas, tem um custo para o produtor. Essa ideia, que é uma proposta antiga, é fazer um único instrumento de crédito. Se estabelece um limite de crédito para o cliente, de acordo com o cadastro dele, de acordo com as atividades que ele desenvolve e esse limite ele vai usar para soja, milho, trigo, fazendo um único registro no cartório. Você tem uma redução bastante grande de custos operacionais, de custo para o produtor rural. É muito bem vindo para todo o setor.

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