De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, pelo menos 6 mil pessoas, 500 caminhões, 1,5 mil cavalos, 60 ônibus e 114 carros foram até a Esplanada dos Ministérios nesta terça, dia 25, em ato público a favor da vaquejada. À noite, ainda de acordo com os organizadores, a expectativa é de que o público chegue a 10 mil pessoas.
Parlamentares, membros da Associação Brasileira de Vaquejada (Abvaq) e da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM) discursaram em carro de som. Já durante o protesto foram anunciadas reuniões com a comitiva e o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, na sede do Ministério. Também foi anunciada uma audiência pública na Câmara dos Deputados, realizada pela Comissão de Esportes e do Meio Ambiente.
O veterinário David Ferreira veio de João Pessoa, na Paraíba, junto com outros amigos e profissionais do setor de vaquejada de Natal (RN) e do estado de Pernambuco, para prestigiar o evento. Questionado sobre a possibilidade de maus tratos, ele afirma: “hoje, com o protetor de cauda, ao puxar o rabo do boi, espalha a tração em diversos pontos, o que impossibilita qualquer lesão”.
A cidade nordestina com maior representatividade na vaquejada, Cachoeirinha, em Pernambuco, está com pelo menos 80 pessoas em Brasília para participar da mobilização. São artesãos, vaqueiros, lojistas e cavaleiros que vieram em dois ônibus e um caminhão à capital. O artesão Lucimero Alves de Almeida, de 37 anos, sempre trabalhou com a produção de artigos de arreio, como luvas, selas e cabeçadas. “Com a decisão do STF, a nossa venda dos produtos já diminuiu em 70%, está tudo mundo difícil”, revela.
Almeida conta que a Cachoeirinha tem cerca de 22 mil habitantes e 90% deles vivem da vaquejada: “Sou casado, tenho quatro filhos e a nossa renda vem da fábrica que temos em casa.”
O vaqueiro e também artesão João Alberto, conhecido como “Betão Vaqueiro” diz que proibir a vaquejada é mais um golpe a uma cidade que está sofrendo há seis anos com a seca. “Estamos sem assistência e começando a passar dificuldade. Para vir pra cá fizemos uma ‘vaquinha’ com todo mundo pra pagar a viagem”.
Por volta das 16h30 os vaqueiros organizaram uma cavalgada batizada de “Vaquejada Legal” apra sair do Congresso. Mais cedo, o ministro da Cultura, Marcelo Caleiro, subiu no carro de som para fazer um discurso para os presentes.
De acordo com o você presidente da Abvaq, Marcos Lima, o ministro afirmou que o maior patrimônio do Brasil é diversidade cultural e, por isso, era preciso respeitar a cultura nordestina, e que o ministério iria trabalhar em cima dessa frente.
Blairo Maggi
Durante a tarde desta terça, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, convidou representantes da manifestação para uma conversa sobre o assunto. “A vinda desses trabalhadores à Brasília será de extrema importância para a criação de comissões na Câmara e no Senado onde haverá o debate sobre a proibição ou não da prática desse esporte. Nós não vamos fugir desse assunto e aqui é a casa para esse tipo de demanda, estamos de portas abertas para recebê-los”, disse o ministro.
O político fez questão de vestir os trajes típicos dos vaqueiros e deu a entender que vai dialogar pela causa. “Se não é aqui que discute, onde iremos discutir, em uma delegacia de polícia?” falou Maggi durante a conversa com os manifestantes.
Programação:
10h – Ato público em frente ao Congresso Nacional
12h – Vaqueiros receberão a benção em frente à Catedral de Brasília
17h – Concentração em frente ao Congresso Nacional para Cavalgada “Vaquejada Legal”
18h – Ave Maria interpretada por artistas em homenagem aos vaqueiros e cavaleiros
19h – Manifestação com a apresentação de artistas que apoiam a Vaquejada Legal
21h – Encerramento
Relembre o caso
No dia 6 de outubro, o plenário do Supremo Tribunal Federal foi favorável à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4983, ajuizada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a Lei 15.299/2013, do estado do Ceará, que regulamenta a vaquejada como prática desportiva e cultural no estado. A maioria dos ministros acompanhou o voto do relator, ministro Marco Aurélio, que considerou haver “crueldade intrínseca” aplicada aos animais na vaquejada.
O ministro Edson Fachin, no entanto, divergiu do relator e votou pela improcedência da ação, justificando que a vaquejada consiste em manifestação cultural. O mesmo entendimento foi reconhecido pela própria Procuradoria Geral da República na petição inicial e seguido, também naquela sessão, pelo ministro Gilmar Mendes. Também votaram contra, no dia 2 de junho, os ministros Teori Zavascki e Luiz Fux, que seguiram a divergência, no sentido da validade da lei estadual.