Uma outra parcela de economistas e especialistas em finanças públicas, no entanto, dizem que a meta é “imexível” neste momento e que, hoje, o sinal oriundo de uma redução deste valor seria “ruim”. Para o especialista em contas públicas, Mansueto Almeida, é dada a hora para a equipe econômica reduzir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB.
– Mudar faz sentido porque a situação é muito pior do que há dois meses, quando a meta foi estipulada. A meta foi criada quando a projeção para o PIB deste ano era perto de 1% e quando se esperava um superavit primário de R$ 10 bilhões (e não deficit). Só isso, já dá legitimidade para o governo revisar a meta para baixo – diz o economista, que trabalhou na campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República.
Para ele, o déficit primário “é uma herança maldita que não se conserta em um ano”. Já o consultor Raul Velloso discorda. Para ele, a meta é “imexível”.
– Em primeiro lugar, não dá para ter certeza que a meta não vai ser cumprida, porque o (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy deve ter trabalhado com uma margem de manobra nas contas – afirma Velloso, argumentando que fazia isso quando trabalhou no governo federal.
Nos cálculos de Velloso, a equipe econômica conseguirá cumprir a meta fiscal se cortar em 0,1 ponto porcentual os gastos com previdência e assistência social; em 0,2 ponto porcentual as despesas com saúde e pessoal; e em 1,1 ponto porcentual o desembolso com investimentos e outras despesas correntes.
Somando essa redução nas despesas com um aumento na arrecadação de 0,2 ponto porcentual, também estimado por Velloso, o governo conseguiria um superavit primário de 1,6% do PIB. Esse resultado seria, portanto, suficiente para compensar o deficit primário do governo central de quase 0,4% do PIB de 2014 e cumprir a meta de superavit de 1,2% do PIB. Sobre as contas, Velloso faz uma ressalva: ele não considerou o impacto do racionamento de energia nem do rodízio de água.
– Se acontecer, ele (Levy) vai cortar investimento, porque o ponto é que o cumprimento da meta é questão de vida ou morte – diz.
Apesar de achar “muito difícil” o cumprimento da meta fiscal, o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, afirma que, “no momento, seria ruim” para a imagem do Levy reduzir a meta que ele mesmo anunciou no ano passado. A possibilidade, entretanto, pode se tornar uma necessidade no futuro.
– Mais para frente e dependendo do cenário, poderemos caminhar para isso – diz Gala.
Gala afirma que “o otimismo com a nova equipe econômica (e com as medidas que foram sendo anunciadas ao longo de janeiro) está perdendo força”. Isso acontece, principalmente, por causa da desaceleração da economia maior que o esperado, segundo o economista. No relatório de mercado divulgado nesta segunda-feira, os analistas de mercado passaram a prever crescimento zero para o PIB. Na semana passada, era de 0,03%. A título de comparação, no relatório de 5 de dezembro, a projeção era de 0,73%.
– Os indicadores de confiança de janeiro vieram horríveis – diz Gala.
A preocupação com a falta de apoio político no Congresso é um ponto em que os economistas concordam. Na terça-feira, 10, a Câmara impôs mais uma derrota ao governo Dilma Rousseff ao concluir a votação da proposta de emenda à Constituição que torna obrigatório o pagamento das emendas parlamentares individuais, o chamado Orçamento impositivo. À primeira vista, o projeto poderá obrigar o governo a aumentar as despesas. Mas não é bem assim, dizem os especialistas em finanças públicas.
– A proposta provoca mais um engessamento da gestão do que um aumento dos gastos – diz Almeida.
Ele e Velloso afirmam que o governo poderia reduzir outras despesas para cumprir aquelas determinadas pelo chamado “orçamento impositivo”.