A definição do campeão brasileiro de 2015 nesta semana inspirou a redação a falar da relação entre o futebol e o agro. Resolvemos montar uma lista de animais e plantas que representam times. Mandamos parabéns ao Corinthians pelo título, mas a equipe não faz parte da nossa relação. Maldosamente, o animal associado pelos adversários ao Timão é o gambá, que não está associado ao nosso mundo agro. No lugar dele, na lista tem cavalo, galo, abelha, boi, cebola etc. Conheça as histórias por trás da escolha dessas mascotes.
América Futebol Clube (MG)
Todos os clubes desta lista têm um animal do mundo agro como mascote. A exceção é o América mineiro, que tem dois. Antes de 1943, o clube era representado por um pato. Mais exatamente, o pato Donald, que Walt Disney havia criado nove anos antes. Atendendo a uma encomenda do jornal “Folha de Minas”, o cartunista Fernando Pierucetti (1910-2004) elegeu o coelho como nova mascote da equipe. Segundo ele, a justifica para a escolha era a esperteza do animal, “um bicho que dorme de olho aberto”. Apesar de ter adotado um dos mais eficazes reprodutores da natureza, a torcida do time não se reproduz com a velocidade da mascote. Levantamento de 2014 da consultoria Pluri mostra que há 68 mil americanos. Só para comparar com seus concorrentes mineiros, cruzeirenses somam 6,9 milhões, e os atleticanos chegam a 4,8 milhões.
Clube Atlético Mineiro (MG)
O mesmo cartunista que desenhou a mascote do América mineiro deu cores e formas ao galo que representa a equipe. “O Atlético sempre foi um time de raça. Mais parece um galo de briga, que nunca se entrega e luta até morrer”, dizia Fernando Pierucetti, o Mangabeira, quando questionado sobre a escolha. Em meados dos anos 1930, época da criação do desenho, as rinhas entre as aves eram populares na capital mineira, e um galo carijó era imbatível. Ele teria inspirado o cartunista. A mascote não “pegou” na hora. O grande responsável por sua consolidação foi o volante Zé do Monte, xerife do meio-campo atleticano entre 1946 e 1955. Ele ganhou o respeito dos torcedores já no seu segundo ano de clube. Num clássico contra o Cruzeiro, levou cotoveladas que abriram seus dois supercílios. No campo, sem anestesia, levou pontos e voltou a campo. Isso e o hábito que ele tinha de entrar em campo segurando um galo carijó sedimentaram de vez a mascote no coração dos atleticanos.
Grêmio Barueri (SP)
A história do clube é uma das mais pitorescas do futebol brasileiro. Fruto de uma sociedade de empresários da cidade paulista que lhe dá nome, o grêmio foi fundado em 26 de março de 1989. Os empresários brigaram, e, em 2010, o clube migrou para Presidente Pudente, no oeste do estado. Teve o nome mudado para Grêmio Prudente e ficou apenas dois anos no novo endereço. De volta à Barueri natal, o clube disputa hoje a série A3 do Campeonato Paulista. Durante todo esse tempo de idas e vindas, a mascote do clube sempre foi uma abelha. Para justificar a opção pelo inseto, a direção do clube diz que a ideia é expressar simplicidade e trabalho em equipe. “Uma abelha sozinha parece ser pequena e fácil de ser dominada. Porém várias abelhas, quando atuam em grupo, tornam-se fortes, capazes de surpreender e de derrubar um grande animal, até mesmo um homem”, diz o site do grêmio. Derrotar 11 homens adversários é um pouco mais complicado.
Sociedade Imperatriz de Desportos (MA)
Montado em uma moto, Tarcísio Meira volta de moto para o interior do Paraná. O objetivo é vingar a morte dos pais, ocorrida quando ele era criança, e recuperar os bens da família, roubados por um vilão inescrupuloso. Esse era o plot da novela “Cavalo de Aço”, sucesso estrondoso da Globo em 1973. Em agosto deste mesmo ano, foi fundado com a presença de Garrincha o estádio Frei Epifânio, onde o Imperatriz manda seus jogos. Entusiasmado, o presidente do clube na época, Severino Silva, não teve dúvida na hora de criar o apelido e a mascote e do time: cavalo de aço.
Associação Olímpica de Itabaiana (SE)
Como no caso do Santos e do Palmeiras, o que era provocação virou mascote. Quarta maior cidade de Sergipe, Itabaiana é conhecida e reconhecida como a “Terra da Cebola”. Por conta disso, os adversários cantavam em coro a palavra “ceboleiros” para irritar os rivais. Não deu outra: os torcedores do Itabaiana abraçaram a planta como mascote e foi criado o Tremendão, uma cebola sarada e com roupa de super-herói. Fundado em 1938, o time dos ceboleiros tem 10 títulos estaduais conquistados, o mais recente deles aconteceu em 2012. Para ver o time jogar, seus torcedores se juntam no estádio Presidente Médici. A diretoria bem que podia considerar a ideia de rebatizar a sua arena. Fica a sugestão.
Luverdense Esporte Clube (MT)
O clube tem sede na cidade de Lucas do Rio Verde, considerada a maior produtora de milho da segunda safra (ou safrinha) do Brasil. Assim, nada mais natural que o time assumisse uma sorridente e boleira espiga como sua mascote. O Luverdense nasceu em 2004 e rapidamente passou a apresentar resultados. Conquistou o Campeonato Mato-Grossense em 2009 e 2012. Nacionalmente, o time, que hoje disputa a série B do Brasileiro, já participou de três edições da Copa do Brasil. Em 2010 e 2012, foi eliminado logo na primeira fase. Em 2013, fez sua melhor campanha: chegou às oitavas de final, venceu o Corinthians no jogo de ida, por 1 a 0, mas perdeu a segunda partida, em São Paulo, por 2 a 0. Voltando a falar da mascote, adversários se aproveitam disso para provocar os luverdenses gritando “pipoqueiros”.
Sociedade Esportiva Palmeiras (SP)
Oficialmente, em 1917 os fundadores do clube escolheram o periquito como sua mascote. E a ave reinou por pelo menos seis décadas. A coisa começou a mudar em meados dos anos 1940. Durante a Segunda Guerra Mundial, os italianos passaram a ser chamados de “porcos” no Brasil. Das ruas, a provocação migrou para as arquibancadas, onde os rivais usavam o suíno para provocar os palmeirenses. Foram necessários quase 40 anos para que os torcedores deixassem de se sentir ofendidos pelo apelido e adotassem o porco como mascote. As finais do Campeonato Paulista em agosto e setembro de 1986 são lembradas como o início desse hábito. Isso apesar de a memória delas serem dolorosas para os palmeirenses, que lembram a derrota para a Internacional de Limeira, primeira equipe do interior a conquistar o Paulistão. Pouco tempo depois, a revista “Placar” fez uma capa com o meia palmeirende Jorginho segurando um porquinho no colo. Não tinha mais volta. Hoje é difícil imaginar a torcida gritando “periquito”.
Santos Futebol Clube
Mais um caso de provocação transformada em mascote. Pela proximidade com o mar, os torcedores adversários sempre provocavam os santistas usando expressões e termos como “peixe podre” e “peixeiro”. O insulto começou a surtir efeito contrário em 1933, quando o São Paulo da Floresta foi enfrentar o Santos na Vila Belmiro. Teve início a provocação, e os santistas responderam com o grito “somos peixeiros com muita honra”. Estava assumido o apelido e começava uma série de equívocos. Na hora de simbolizar o peixe, foi escolhida uma orca. Membro da família dos golfinhos e prima das baleias, a orca não é peixe, mas um mamífero marinho. Respira pelos pulmões, e não por brânquias, como os peixes. A diretoria do clube não está nem aí para esse paradoxo, ao qual acrescenta mais um. Criou as mascotes Baleião e Baleinha, que entram com o time em campo e animam os intervalos. Apesar dos nomes, são orcas.
Serrano Futebol Clube (PE)
Se você chegou até aqui, notou que todas as mascotes anteriores são desenhos. O Serrano inovou e, em vez de um ser inanimado, sua mascote é um jumento de verdade. Um animal que não apenas existe, mas que acompanha a torcida quando o jogo acontece no estádio Nildo Pereira de Menezes, o Pereirão. Além de ser a cidade do Serrano, Serra Talhada é célebre por ser o berço de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião. E essa influência acaba escorrendo para as arquibancadas. Uma das torcidas organizadas mais presentes nos jogos do time em casa se chama Lampiões da Fiel. Pensando nisso, fica a dica: como a Copa do Nordeste recebeu o apelido carinhoso e bem-humorado de Lampions League, bem que a final do torneio podia ser no estádio do Serrano. E, claro, com o jumento na arquibancada.
Uberaba Sporte Club (MG)
Uberaba é conhecida como a Capital do Zebu. Tanto que a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu fica na cidade. Além disso, os moradores locais fazem compras no supermercado Zebu Carnes, almoçam no final de semana na churrascaria Zebu e ouvem sucessos sertanejos e flash backs na Zebu FM. Claro que o time da cidade não iria escolher um boi da raça angus como mascote. Fundado em 1917, o clube já teve dias melhores no futebol nacional, mas parece estar se reaprumando. Disputa a segunda divisão do futebol mineiro, mas com grandes chances de subir. E talvez voltar a sonhar com esquadrões como os que montou nos anos 1970. Tempo em que formava talentos como Beto Fuscão, zagueiro que ficou famoso defendendo Palmeiras e Grêmio.