Um vídeo de brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) usando fogo para diminuir a matéria orgânica e evitar a propagação de incêndios no Pantanal mato-grossense está circulando nas redes sociais e levantando debates.
Sem o contexto, alguns internautas compartilharam, indignados, as imagens alegando que os agentes estariam provocando queimadas criminosas. Na verdade, explica o ICMBio em nota, trata-se de uma manobra de combate indireto aos incêndios florestais, chamada de queima de expansão.
A ação teria acontecido entre 12 e 13 de setembro, na Estação Ecológica de Taiamã, em Cáceres (MT), que é uma unidades de conservação federais ameaçadas pelos incêndios na região.
A queima de expansão consiste em eliminar combustível (matéria-orgânica) em pequenas faixas do terreno através da aplicação do fogo, de forma a conter o avanço das chamas em um incêndio real. “O controle dessa técnica exige pessoal treinado e experiente, pontos de ancoragem muito bem definidos e condições meteorológicas favoráveis para que o fogo não se alastre e inicie um novo incêndio. Todas essas condições foram obedecidas e a queima foi considerada um sucesso”, afirma o órgão.
O instituto reforça que a Estação Ecológica de Taiamã continua protegida, sem incêndios no seu interior. “No entanto, desde 14 de setembro, um vídeo que circula pela internet tem gerado diversos mal-entendidos sobre as ações do ICMBio. Ele foi produzido e divulgado por um brigadista que esteve em campo, trazendo uma versão errônea sobre a prática de que ele participara”, declara.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, usou as redes sociais para dizer que o procedimento de uso controlado do fogo para diminuir o volume de matéria orgânica está correto. Salles também afirmou que o brigadista que fez o vídeo, no qual afirma por brincadeira que “está tacando fogo” no Pantanal, será exonerado.
Apesar da “narrativa engraçadinha” do brigadista que fez o filme e que será exonerado, o procedimento de uso preventivo e controlado de fogo para diminuir matéria orgânica está correto. pic.twitter.com/KnnR7XtlIN
— Ricardo Salles MMA (@rsallesmma) September 15, 2020
‘Pesadelo no campo’
O vídeo causou comoção principalmente porque a região vive um momento bastante delicado, tendo registrado até o momento, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 210% mais incêndios do que no mesmo período do ano passado. As chamas, inclusive, já destruíram pastagens e lavouras, como o Canal Rural mostrou.
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Os incêndios que se alastram pelo Pantanal e por Mato Grosso têm se transformado em um verdadeiro pesadelo para os pecuaristas, afirma a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), em nota. “Os prejuízos materiais tem sido enormes, mas são as vidas de homens e mulheres que estão em risco o que mais preocupam”, diz.
Segundo a entidade, o desastre não se restringe ao Pantanal, e os incêndios já consomem pastagens, florestas e fazendas em diversas regiões do estado, inclusive, nas maiores produtoras de gado bovino. “O pecuarista, independente de seu porte, tem somado com as autoridades públicas na missão de debelar tais incêndios, pois sem suas pastagens e com perdas de animais não há como produzir”, afirma.
O governo federal anunciou, na semana passada, a liberação de R$ 10 milhões para ajudar Mato Grosso no combate aos incêndios. Já o governador Mauro Mendes decretou estado de emergência para conseguir tomar medidas rápidas, como contratações em caráter de urgência.
“Diante desse cenário, a Acrimat acredita que o pior está para passar, e que as medidas que veem sendo anunciadas pelas autoridades, em conjunto com esforços empreendidos por pecuaristas de todo o estado no combate aos incêndios, finalmente deem fim a este desastre que tomou nosso estado”, diz a associação.