O Brasil está entre os cinco países agraciados com o 2º Prêmio de Bem-estar Animal da Associação Mundial de Veterinária (WVA, em inglês). Essa homenagem reconhece médicos veterinários que dedicam sua carreira a proteger o bem-estar de animais no mundo. A honraria foi entregue neste domingo, dia 6, durante o 34º Congresso Mundial de Veterinária, em Barcelona.
Quem recebeu o prêmio foi o professor da Universidade de São Paulo (USP) Adroaldo José Zanella, referência internacional no estudo do bem-estar animal. A WVA é uma entidade tradicional, fundada em 1863, que reúne as organizações de veterinária do mundo. É a principal organização mundial do setor. O brasileiro foi o grande vencedor da região América Latina, após uma análise de indicações feitas por organizações e profissionais dos países dessa região.
“Essa honra representa o trabalho de inúmeros estudantes, técnicos e colaboradores que me acompanharam nos diversos grupos em que trabalhei, especialmente no Brasil”, ressalta o médico veterinário, coordenador do Centro de Estudos Comparativos em Saúde, Sustentabilidade e Bem-Estar da USP desde 2013.
Essa é a primeira vez que um brasileiro recebe o reconhecimento internacional da WVA para o bem-estar animal. “É árdua a luta pela defesa dos animais, mas é o melhor trabalho do mundo. Eu amo o que faço”, afirma Zanella, que recebeu uma homenagem e um prêmio no valor de 5 mil euros.
Em 30 anos de carreira, Adroaldo Zanella estudou o papel de fatores ambientais no comportamento animal e desenvolveu métodos para medir o bem-estar em sistemas de produção. Em suas pesquisas, já desenvolveu trabalhos que revelaram biomarcadores de estresse em diferentes espécies, avaliaram o impacto do pré-natal no comportamento e demonstraram a influência do estresse e de doenças na organização do cérebro dos animais.
“É grande a preocupação com o bem-estar animal, mas é necessário saber o que é bom e o que não é do ponto de vista do animal. Hoje em dia, pesquisadores são capazes de medir isso”, ressalta sobre a produção de indicadores que serão usados como referência para os sistemas produtivos avaliarem seu trabalho pelo prisma do bem-estar animal.
Atualmente, Zanella participa de projetos com o objetivo de implementar protocolos de bem-estar para melhorar a produtividade de sistemas de produção de ovinos e no desenvolvimento de estratégias voltadas para o bem-estar e a segurança de jumentos no Nordeste brasileiro.
O médico veterinário também se dedica a pesquisas que buscam demonstrar o impacto do ambiente durante as fases pré-natal e neonatal de diferentes espécies, estabelecendo protocolos para aprimorar a resistência das crias. O cuidado antes mesmo do nascimento, acredita Zanella, pode interferir de forma positiva na vida do animal.
Doutor em Cambridge
Pioneiro nas pesquisas relacionadas ao bem-estar de animais de produção, Adroaldo Zanella foi o primeiro médico veterinário do mundo a obter doutorado em bem-estar animal, pela Universidade de Cambridge, do Reino Unido, em 1992.
Mais tarde, seria responsável pela criação de programas dedicados ao tema na Universidade Estadual de Michigan (EUA), na Norwegian School of Veterinary Science (Noruega) e na Universidade de São Paulo (USP). Zanella também trabalhou na Ludwig Maximilians Universitat, em Munique, Alemanha, e foi professor catedrático no Scotland’s Rural College, em Edimburgo, Escócia.
Sua pesquisa relacionada ao bem-estar animal ganhou repercussão internacional quando descobriu um marcador neurofisiológico associado ao comportamento repetitivo de suínos e demonstrou que a espécie sofre estresse em situações de isolamento social, ou quando submetida ao desmame precoce. Os trabalhos com suínos foram aplicados em estudos com humanos.
Entre os diversos projetos que Zanella coordenou até hoje, destaca-se o desenvolvimento dos Indicadores de Bem-estar Animal AWIN, financiado pela União Europeia. A iniciativa, que envolveu 142 pesquisadores de 11 instituições e nove países, teve como objetivo desenvolver protocolos científicos de avaliação de indicadores de bem-estar animal que possam ser usados por profissionais e produtores para mensurar o bem-estar animal. O projeto recebeu um apoio de cerca de 6 milhões de euros.