A recente subida do dólar não foi suficiente para conter a procura de estudantes brasileiros por estágios em fazendas de outros países. O aprendizado técnico e do idioma do país visitado são os principais motivos que levam jovens a trabalhar no exterior. O investimento é alto, mas garante uma um currículo com formação diferenciada em várias áreas do agro.
Diretor de uma agência de intercâmbio especializada em agronegócio, Flávio Salvadengo diz que, por ano, sua empresa manda em média 200 brasileiros para diversos países: “Por mais que a gente tenha um dólar alto, a procura aumenta. Primeiro porque, quando o mercado de trabalho do Brasil está aquecido, o aluno fica um pouco mais pensativo: ‘Devo aceitar um estágio internacional ou uma vaga aqui no Brasil?’. E, quando o mercado está instável, as pessoas procuram mais o intercâmbio como uma forma de se qualificar”.
Com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos, o engenheiro agrônomo João Corbett foi à Nova Zelândia. A ideia inicial era fazer estágio de um ano, mas ele acabou ficando três. Começou como estagiário em uma vinícola neozelandesa, foi efetivado e alcançou o cargo de subgerente. A experiência aconteceu entre 2007 e 2010.
Corbett começou o intercâmbio quando tinha 27 anos e já atuava como engenheiro agrônomo no Brasil. O que mais chamou a sua atenção por lá foi o jeito gringo de trabalhar. “Eles têm essa parte do fazer. Em inglês, há a expressão ‘hands on’, ou seja, mão na massa. Você tem o conhecimento técnico sobre o que tem de ser feito, mas você faz também. No vinhedo, eu podava uva, dirigia trator, pulverizava os preparados. Mas também fazia todo o planejamento, a certificação, a parte mais técnica”, diz o agrônomo.
Para fazer intercâmbio em fazendas de outros países, é preciso ter entre 18 e 28 anos, conhecimento intermediário de inglês e ser formado ou estar se graduando em engenharia agronômica, medicina veterinária, zootecnia ou outros cursos ligados ao agro. Alguma experiência na área também é recomendável.
O investimento para um ano de estágio no exterior fica em torno de US$ 3.200, ou quase R$ 13 mil, mais o valor da passagem aérea. Para aliviar um pouco as despesas, o aluno recebe remuneração pelo trabalho e pode recuperar parte do valor gasto para viajar.
“Os principais destinos escolhidos pelos alunos são nos Estados Unidos, e os programas mais procurados são de agricultura e horticultura”, diz Flávio Salvadengo. Isso apesar de sua escola oferecer intercâmbio nas áreas de pecuária, suinocultura, apicultura (na Flórida e no Havaí), além de vitivinicultura na Califórnia. “Mas não adianta. O mais procurado pelo brasileiro é a produção de grãos. A gente manda muito aluno para as fazendas do Meio-Oeste e Norte dos EUA.”
Na volta ao Brasil, João Corbett mudou um pouco o foco da carreira. Hoje ele é empresário e concilia a organização de eventos com a consultoria para a produção de alimentos orgânicos e biodinâmicos, um aprendizado adquirido na vinícola da Nova Zelândia. Além das boas recordações, ele trouxe muito conhecimento na bagagem. “A educação fora do país é geral mesmo. Trabalhei a minha formação de caráter, o inglês, a parte técnica. Acho que isso tudo é muito válido”, diz o agrônomo.