O dólar comercial fechou em alta de 0,63% no mercado à vista, cotado a R$ 4,287 para venda, renovando a máxima histórica pelo segundo pregão seguido, em dia de volatilidade após leilão de linha do Banco Central (BC), formação da taxa Ptax de fim de mês, mas tendo como pano de fundo o temor com avanço do coronavírus na China e em outros países.
Para o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, a forte valorização da moeda segue sendo influenciada, diretamente, pelos temores associados ao alastramento do vírus em escala global. “A notícia que a companhia aérea Delta decidiu suspender todos os voos semanais entre Estados Unidos e o país asiático até 30 de abril evidenciam a grande complexidade da epidemia”, avalia.
Diante disso, a moeda fechou a semana valorizada em 2,38%, enquanto no mês, subiu 6,80%, na maior alta percentual desde agosto do ano passado, devolvendo a queda de 5,3% registrada em dezembro. Este foi o pior janeiro em dez anos para o real. “Em performance, o real só perdeu para o peso chileno e para o rand sul-africano. Foi um mês de muitas notícias negativas”, comenta o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.
Ele se refere não apenas ao avanço do coronavírus, que dominou o noticiário nos últimos dias, como também ao conflito geopolítico entre Estados Unidos e Irã, no início do mês, no qual o receio dos investidores em uma escalada para uma guerra entre as nações estressou o mercado. Em contrapartida, Estados Unidos e China assinaram no dia 15 a primeira fase do acordo comercial entre os países após as negociações se arrastarem por quase dois anos.
“Tivemos um movimento atípico em janeiro de saída de recursos estrangeiros. O coronavírus reforçou uma forte fuga de capital para ativos de risco”, diz o economista da Guide.
Na semana que vem, a agenda de indicadores deverá ditar os rumos dos ativos com números da atividade industrial e de serviços na China e nos Estados Unidos, além da balança comercial dos países e dos dados de emprego norte-americanos. Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, os desdobramentos da “epidemia” deverá seguir pautando os mercados.
No Brasil, na próxima quarta-feira tem a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) no qual a aposta majoritária do mercado é de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, a 4,25% ao ano, renovando o piso histórico. “O mercado segue precificando mais um corte da taxa. Caso o BC mantenha em 4,50%, vamos ver uma reversão nos mercados”, comenta o economista da Guide.