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DECLARAÇÃO

El Niño tem afetado mais produção do que inflação, afirma Galípolo

O diretor de Política Monetária do Banco Central que a autarquia tem demonstrado coerência em relação ao ritmo do ciclo de cortes de juros

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta sexta-feira (16), que a instituição monitora as questões climáticas e seus impactos sobre a safra doméstica. E que o fenômeno El Niño tem afetado mais a produção do que a inflação até o momento.

“A questão do clima é muito complexa porque afeta de forma muito heterogênea não só o Brasil, que tem uma fronteira agrícola ampliada pelas regiões, mas como afeta outros produtores e os preços de algumas commodities”, comentou Galípolo.

O El Ninõ, de acordo com ele, pode ter impactos sobre alimentos in natura.

“O que a gente espera para este ano é que pode ter uma produção inferior a do ano passado, mas ainda assim relativamente alta”.

BC tem demonstrado coerência em relação ao ritmo de cortes de juros

O diretor de Política Monetária do Banco Central que a autarquia tem demonstrado coerência em relação ao ritmo do ciclo de cortes de juros.

O BC contribuiu, assim, para que o debate no mercado não seja sobre o próximo passo da autoridade monetária, mas sim sobre qual será a taxa no fim do ciclo, uma vez que a comunicação tem se limitado a indicar que os juros devem seguir em território restritivo, afirmou.

“O fato de termos demonstrado coerência na comunicação sobre o ritmo foi deslocando o debate no mercado sobre o que seria o juro terminal, que ganhou preponderância nas discussões”, declarou Galípolo.

Após observar que o BC não tem se engajado em indicar, em sua comunicação, qual será a Selic terminal, Galípolo frisou que as revisões de expectativas, tanto para a inflação quanto para a taxa no fim do ciclo, têm sido positivas. Isso, pontuou o diretor do BC, inibe ideias de mudar a estratégia de comunicação.

Segundo Galípolo, o BC está atento a como a inflação corrente afeta as expectativas. Pelo ritmo adotado, de cortes de 0,5 ponto porcentual a cada reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom), frisou, ganha tempo para fazer o ajuste ao mesmo tempo em que colhe os indicadores, assim acompanha os juros nos Estados Unidos, para subsidiar as suas decisões.

Após dizer que o BC é “data-dependent” – ou seja, toma decisões com base nos dados que vão sendo apresentados entre uma reunião e outra do Copom -, Galípolo lembrou que o colegiado vai contar, até o próximo encontro, entre 19 e 20 de março, com três medições do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Mercado de trabalho

A resiliência do mercado de trabalho, considerando uma possível pressão dos salários, está no foco de análise do Copom, de acordo com o diretor de Política Monetária. “Acho que o mercado de trabalho se assemelha ao momento de abertura das taxas de juros norte-americanas para o Copom”, comparou, durante a live realizada pela Bradesco Asset.

Galípolo observou, porém, que são fontes de preocupação e de cautela por parte da autoridade monetária, mas que precisam se concretizar e ter algum contágio para a inflação corrente ou para as expectativas para se tornarem um problema. “Ressaltamos isso na comunicação”, afirmou, relatando que, em encontros com agentes do mercado financeiro foi apresentada a dificuldade de encontrar correlação entre as variáveis – emprego e preços.

O diretor do BC comentou que, enquanto o mercado financeiro tem como objetivo fazer apostas sobre o rumo desses dados e na academia há mais liberdade para se criarem hipóteses sobre o futuro, o trabalho do Banco Central é diferente. “Não se vai fazer política monetária baseada em posições que são mais arrojadas ou mais arriscadas. A autoridade monetária tem que atuar com cautela e conservadorismo”, defendeu.

Por isso, de acordo com ele, o Copom decidiu chamar atenção para o que pode se tornar uma fonte de preocupação para o contágio da inflação. “Estamos chamando a atenção, mas vamos analisar como isso se transmite para a inflação corrente. Se isso vai realmente se revelar como uma pressão inflacionária ou na revisão das expectativas”, ponderou.

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