O governo federal vai investir na reconstrução dos espaços urbanos afetados pela passagem de um ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul. Com exclusividade ao telejornal Mercado & Companhia, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, explicou a criação do BNDES Crédito Solidário, programa de crédito que vai oferecer condições especiais para as empresas da região.
Leia a íntegra da entrevista com Aloizio Mercadante:
CR: O presidente Lula anunciou ontem (13) que o BNDES disponibilizou uma linha de crédito especial de 1 bilhão de reais ao Rio Grande do Sul, com o objetivo de ajudar a reconstruir os espaços urbanos e a economia local. Como vai ter o acesso dos produtores rurais a esses recursos?
AM: Estamos vivendo uma situação. O agravamento dos extremos climáticos, está a gente olhar o que está acontecendo no planeta. O Polo Sul, o Polo Norte, estão no processo de degelo muito acentuado, incêndios de grandes proporções no Canadá, no Havaí, na Grécia, outros graves acidentes climáticos acontecendo recentemente. Veja o caso, por exemplo, do Marrocos e da Líbia, especialmente, que a Líbia foi uma forte inundação e é um quadro muito grave. Como disse o secretário geral da ONU, estamos vivendo o período da efervescência climática e nós temos uma responsabilidade muito grande pelo país. O Brasil já tem uma tradição de políticas públicas para responder a essas situações.
AM: Você coloca o orçamento para reconstruir o espaço urbano, as casas, as residências, a infraestrutura, estradas, pontes, ruas, avenidas, obras de contenção. Mas nós precisamos ir além disso daqui pra frente, porque esses acidentes vão ser recorrentes e nós precisamos de uma resposta que também olhe para a economia local. Eu queria primeiro me solidarizar com as dezenas de vítimas que faleceram, pessoas que perderam seus entes queridos, alguns ainda, que estão desaparecidos nessa dramática situação do Rio Grande do Sul, que já vinha de um acidente climático grave porque há duas semanas foram na Expointer anunciar uma linha de combate à seca, de tentar mitigar o impacto da seca, especialmente nas cooperativas rurais do Rio Grande do Sul.
AM: E agora voltamos com uma linha completamente nova de 1 bilhão de reais, porque o BNDES vai abrir e eu diria que estará disponível em duas semanas. Com cinco anos de prazo para pagar e dois anos de carência para micro e pequenas empresas. Nesse momento, com juro zero, só vai ter correção pela inflação. Porque essas micro e pequenas empresas, elas perderam o seu patrimônio, perderam o estoque. Aí não consegue pagar, o fornecedor não consegue pagar, o banco não consegue recolher os impostos, consegue pagar folha a folha salarial, o empresário fica completamente desestruturado. Ou aquelas que são unidades industriais perdem todos os seus equipamentos, aquela unidade produtiva da propriedade rural urbana. Então, o limite nessa fase é R$ 2,5 milhões. Mas todo empresário que foi comprovadamente atingido nessa região vai poder trabalhar com todos os bancos, todas as agências que operam nessa área. O BNDES vai disponibilizar esse recurso para os bancos.
AM: E uma outra novidade muito importante: o Ministério da Fazenda vai colocar 100 milhões de reais no nosso Fundo Garantidor de Investimentos para que aqueles empresários que evidentemente não têm garantias a oferecer, perderam o que tinham nessa crise, nessa tragédia, nós vamos garantir até 80% da operação. Então o BNDES garante a operação, coloca 1 bilhão de reais na linha. Eu diria que em duas semanas isso já está disponível para quem quiser operar direto, mas especialmente as agências de bancos locais e cinco anos para pagar dois anos de carência sem juros, só a correção monetária. Então é muito favorecido e foi uma determinação do presidente Lula, que olha com muita atenção e eu diria agora com uma nova atitude do estado brasileiro, que é não só recuperar o estado ou a área rural ou área urbana atingida, mas principalmente fomentar a economia local para que ela possa se reestruturar, voltar a produzir, gerar emprego, renda e normalizar a vida dessas comunidades tão duramente atingidas.
CR: Como você mesmo mencionou, passamos por três anos de estiagem, e o Plano Safra deste ano incluiu mais recursos para ajudar os produtores que foram afetados pela seca. Agora, estamos enfrentando um cenário oposto, com custos cada vez mais elevados para os produtores rurais. Haverá condições de financiamento mais acessíveis para os agricultores?
AM: Em relação à estiagem, anunciamos uma linha junto com meus colegas Carlos Fávaro, da Agricultura, e Alexandre Abreu, diretor do banco responsável por essas iniciativas. Durante a Expointer, lançamos um programa de 3 bilhões de reais, com cinco anos para pagar e um ano de carência. As taxas de juros são fixas, de 5,5% ao ano, sem oscilações. Isso se aplica aos exportadores e às cooperativas. No entanto, é importante destacar a contrapartida dos produtores rurais. Eles precisam participar do programa 365 da Embrapa, que incentiva a adoção de medidas preventivas contra a seca e outros eventos climáticos recorrentes.
CR: E em relação às taxas de juros para as atividades agrícolas em geral, qual é a situação?
AM: Nós disponibilizamos 26 bilhões de reais com taxas de juros equalizadas para todas as atividades agrícolas. Destes, 21 bilhões já estão disponíveis. Gostaria de alertar os produtores que acompanham o Canal Rural e estão sempre bem informados. Até o momento, já liberamos 15 bilhões de reais. Portanto, ainda temos 6 bilhões de reais disponíveis, mas o ritmo de desembolso está acelerado devido à forte demanda, especialmente para investimentos em armazenagem, equipamentos e máquinas.
Confira a entrevista completa no vídeo acima.
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