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Economia

Ipea revisa projeção de crescimento do PIB com leve baixa

Para 2022, a projeção para o crescimento acumulado do PIB foi revista de 2% para 1,8%, de acordo com estudo divulgado nesta quinta-feira (30)

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quinta-feira (30/9), a Visão Geral da Conjuntura, análise trimestral da economia brasileira, mantendo a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 4,8% em 2021, conforme edição anterior da Carta de Conjuntura, de junho passado. Os pesquisadores projetaram um crescimento interanual de 4,6% no terceiro trimestre deste ano. Segundo eles, a recuperação da economia está atrelada ao avanço da vacinação contra a Covid-19 e à melhora da dinâmica epidemiológica.

Para 2022, a projeção para o crescimento acumulado do PIB foi revista de 2% para 1,8%. Essa revisão se deu por conta do cenário macroeconômico, com persistência da inflação em patamar elevado, impactando o poder de compra da população, e com a consequente necessidade de um aperto monetário maior do que o esperado. Em agosto, o endividamento das famílias brasileiras atingiu o pico histórico. Por outro lado, o crescimento robusto do setor agropecuário e o aumento da disponibilidade de caixa dos governos estaduais – que poderá ser utilizado para ampliar os investimentos – contribuíram para que a revisão para o próximo ano tenha sido pouco significativa.

A inflação brasileira segue pressionada pela desvalorização cambial, alta dos preços internacionais das commodities e crise hídrica. Para 2021, a projeção é de alta de 8,3% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e de 8,6% para o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC). A variação em 12 meses do IPCA atingiu 9,68% em agosto deste ano. No acumulado do ano, até agosto, o IPCA teve alta de 5,67%, ultrapassando o limite da banda inflacionária estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2021 (5,25%). Para 2022 há expectativa de desaceleração da taxa de crescimento dos preços, tanto para o IPCA quanto para o INPC, em relação à alta projetada em 2021. Sendo assim, a inflação medida pelo IPCA deve encerrar o ano de 2022 em 4,1%, levemente acima dos 3,9% estimados para o INPC.

O Brasil passa pela pior crise hídrica nos últimos 91 anos, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). A situação é ainda mais grave porque não há perspectiva de nível de precipitação acima da média para o último trimestre nos subsistemas mais afetados, principalmente no Sudeste/Centro-Oeste. De acordo com o levantamento feito pelo Ipea, com base nas previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a precipitação prevista é igual ou abaixo da média do período de 1981 a 2010.

O Grupo de Conjuntura do Ipea analisou o cenário fiscal brasileiro, com perspectiva de melhora nas contas públicas em 2021. De acordo com o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, o resultado primário do Governo Central esperado para o ano, divulgado em setembro, passou para um déficit de R﹩ 139,4 bilhões, o que representa uma melhora de R﹩ 16 bilhões em relação ao projetado em julho e de quase R﹩ 50 bilhões em comparação com o previsto em maio. Para 2022, persistem incertezas, a principal das quais está associada à magnitude do esforço de contenção de despesas requerido para a obediência do teto de gastos da União.

O crescimento das disponibilidades de caixa nos governos estaduais merece destaque. De acordo com os pesquisadores, o crescimento de 1,1% nas despesas primárias, entre os primeiros semestres de 2019 e 2021, em um quadro de aumento real de receita de 6,5%, levou a um superávit primário em 2021 substancialmente superior ao de 2019. Esse aumento permitiu o acúmulo de volumes significativos de disponibilidade de caixa que alcançaram, para o conjunto das Unidades Federativas (UFs), 22% da Receita Corrente Líquida (RCL), contra uma média em torno de 15% da RCL observada nos anos anteriores. O aumento, que equivale a cerca de 0,6% do PIB, pode contribuir para uma expansão considerável do investimento dos governos estaduais, que atingiram, no biênio 2019-20, cerca de 0,5% do PIB. Porém, os governos estaduais deverão lidar adequadamente com os desafios de evitar que o robustecimento da liquidez seja absorvido em gastos obrigatórios e de identificar boas oportunidades de investimentos.

Esse possível crescimento dos investimentos dos governos estaduais pode atenuar os impactos negativos do aumento dos juros sobre a atividade econômica. “Apesar da política monetária mais apertada, a economia deve continuar a crescer em 2022 devido às boas perspectivas para os investimentos em capital físico e para a produção agropecuária – com nova safra recorde e retomada do crescimento da produção de carne bovina”, avaliou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.

Atividade econômica

O Grupo de Conjuntura do Ipea também divulgou nota com os indicadores mensais de atividade econômica, cujo desempenho indica a continuidade da recuperação da economia no início do terceiro trimestre de 2021. Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, os níveis de mobilidade urbana devem se aproximar da normalidade. Sendo assim, os pesquisadores estimam, para agosto deste ano – na comparação com o mês de julho, avanço de 0,1% no setor de serviços, alta de 0,6% na produção industrial e queda de 1,1% no comércio varejista. Na comparação com o mês de agosto do ano passado, a previsão é de alta em todos os segmentos: setor de serviços (+ 15,7%), produção industrial (+ 1,2%) e comércio varejista (+ 2%).

O documento contempla uma análise do setor automotivo, que teve desempenho ruim e que impactou, em parte, os resultados do comércio varejista em agosto deste ano. O encarecimento de insumos como o aço, a borracha e mais recentemente o aumento dos preços da energia tem pressionado os custos das montadoras. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), enquanto a produção de automóveis de passeio e de comerciais leves registrou queda de 16,5% e 4,6%, no trimestre móvel encerrado em agosto, a produção de caminhões cresceu 11,4%. A renovação das frotas de caminhões foi motivada pela safra agrícola recorde, juntamente com o aumento da atividade mineradora, num cenário de crescimento da demanda mundial e dos preços de commodities.

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