De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), no segundo trimestre de 2018 foram abatidos 7,72 milhões de bovinos no Brasil. O transporte desses animais da fazenda para os frigoríficos é uma atividade complexa que implica em muitos fatores.
“Depende das características do veículo, da estrada, na qualidade da condução, do estado que o animal entrou no caminhão para ser transportado, da duração da viagem e das condições do clima durante o trajeto”, resume o especialista em comportamento animal Mateus Paranhos da Costa, professor do Departamento de Zootecnia da Unesp de Jaboticabal.
Paranhos explica que vários veículos podem ser usados na tarefa, entre os articulados, biarticulados, com um piso ou dois. Em qualquer situação, a recomendação geral é que o veículo tenha uma boa condição para acomodar o animal. “É importante fazer manutenção no veículo para evitar que o animal sofra algum acidente durante o transporte”, recomenda.
Segundo o especialista, uma preocupação recente se deve ao aumento do uso das carretas de dois pisos. Esses veículos estão sendo mais usados porque reduzem o valor do frete por animal transportado. Os desenhos desses caminhões, no entanto, gera muita dificuldade no embarque e desembarque de animais.
Em função disso, nos últimos anos, explica o professor, houve um avanço nesses sistemas, que atualmente trabalham com elevadores – mecanismo hidráulico -, e o boi não tem mais que andar pela rampa. “Isso facilitou muito para o animal, pois ele não descia a rampa, mas a pulava”, conta.
Além do veículo, os animais precisam ser preparados para a viagem. “Os ruminantes, em geral, não enjoam e por isso podem comer. Também é importante que os animais entrem hidratados no caminhão”, orienta. Essa recomendação vale principalmente em caso de viagens longas, porque o animal pode perder muita água pela urina, pelas fezes, pelo suor e chegar desidratado ao frigorífico.
Paranhos explica que, dependendo do nível da desidratação, mesmo tendo acesso a água no frigorÍfico, pode não ser o suficiente para o animal recuperar a sua condição normal. “Há um trabalho científico que mostra que, se o animal perder 10% do seu peso em água, ele não se recupera nas 24 horas – o período máximo – que ele fica no frigorífico. Isso vai ter implicações na qualidade da carne depois”, diz.
A legislação brasileira determina que os animais não passem mais do que 12 horas embarcados sem comida e sem água. “Em viagens mais longas que esse período, o ideal seria que os animais fossem desembarcados e recebessem comida e água”, orienta Paranhos.
Isso porque, a partir de 6 ou 8 horas de viagem, o animal cansa e começa a deitar dentro do caminhão. “Isso é um problema porque normalmente a densidade de carga é alta, e ele vai começar a ser pisoteado pelos outros animais. Isso, além de causar hematoma na carcaça, pode fazer com que os outros animais caiam”, explica.
Tal situação nos casos mais graves pode causar a morte do animal. Portanto é recomendado ao motorista que, sempre que tiver um animal deitado, e tente levantá-lo, “até porque, quando morre um animal no caminhão, é o motorista que arca com o prejuízo”.
Para transportar bovinos, o motorista deve ter, além de um treinamento básico, um pouco de experiência. “Freadas bruscas, arrancadas e curvas em alta velocidade são movimentos a ser evitados, pois podem derrubar todos os animais e provocar um desastre.” Atualmente, os grandes frigoríficos do país oferecem treinamento para motoristas. Além disso, nem sempre as estradas estão em boas condições.
“Os pontos críticos são o Norte e o Centro-Oeste. Nesses locais, não importa a distância a ser percorrida, mas sim quanto tempo se leva de um lugar a outro. Isso porque há viagens que, apesar de relativamente curtas, são terríveis para o gado porque são feitas em estradas cheias de buraco, que fazem com que os animais caiam muito.” O motorista deve se planejar para situações assim, pois precisará de apoio.
Outras dicas para uma viagem segura
- O motorista deve ter um plano para situações de emergência
- O piso do compartimento de carga deve ter tapete de borracha e estrutura antiderrapante
- Deve-se evitar embarcar animais cansados, machucados ou doentes
- Se precisar levantar os animais, o motorista deve tentar fazer isso falando ou batendo palmas. Não deve gritar nem assustar os animais
- O motorista deve evitar paradas longas, principalmente nas horas mais quentes do dia
- Nas paradas, o motorista deve estacionar o veículo na sombra
- Em caso de problemas durante a viagem, o motorista deve estudar a possibilidade de rotas alternativas
- Não se deve misturar bezerros com animais adultos
- O motorista deve desinfetar o veículo logo após o desembarque e, em caso de necessidade, realizar consertos no veículo