A greve dos caminhoneiros deflagrada em todo o território nacional há oito meses ainda repercute no agronegócio. Isso ocorre porque o setor foi um dos mais afetados pela imposição de uma tabela de preços mínimos para os fretes rodoviários. Na época, essa foi uma das condições do movimento grevista para pôr fim à paralisação, que durou 11 dias no mês de maio. Para tentar contornar essa situação, alguns produtores de médio e grande porte estão ampliando ou iniciando a frota própria de caminhões.
E esse movimento tem sido bastante expressivo. Para ter ideia, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2018 as vendas de caminhões pesados no mercado interno somaram 34.784 unidades, alta de 85,5% sobre o movimento de 2017. “Este segmento é puxado pelo agronegócio, em resposta às boas safras colhidas no Brasil”, avalia Luiz Carlos Gomes de Moraes, vice-presidente da Anfavea.
De fato, tradicionalmente os médios e grandes produtores mantêm uma frota própria. As colheitadeiras, após a colheita, carregam os caminhões, que levam a produção para o sistema de armazenamento. “Essa frota até o ano passado era usada apenas dentro da propriedade, mas agora os agricultores também estão usando para levar a produção até o porto”, conta Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja).
Segundo ele, apenas os grandes grupos agrícolas, como Bom Jesus, Bom Futuro, Vanguarda e Pinesso, tinham uma empresa de transporte dentro do seu negócio. “Agora, a tendência é que todos os produtores tenham uma frota própria mais robusta”, avalia Vaz.
Com frotas próprias maiores, que devem representar 30% da demanda, os produtores pretendem driblar a incerteza jurídica que se instalou no país após o tabelamento do frete, que aumentou o custo de produção do agronegócio em até 50% com as despesas com transporte.
“É lógico que esse aumento não resolve o problema de escoamento de produção desses grupos. Eles terão que continuar usando transportadora, mas terão mais independência”, diz Ferreira, que calcula que os grandes produtores de Mato Grosso estejam comprando entre 100 e 300 caminhões para engordar sua frota particular.
“Em linhas gerais, o setor está esperando uma posição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade da tabela de fretes”, diz. Em dezembro, o ministro do STF Luiz Fux concedeu uma liminar suspendendo a cobrança de multa para quem desrespeita a tabela de preços mínimos de frete. No mesmo mês, ele voltou atrás e revogou a liminar. Agora a decisão sobre a constitucionalidade da cobrança de multas para quem não cumpre a tabela será do plenário do STF. Entretanto, ainda não há data para essa decisão.