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Economia

Manutenção da Selic depende de evolução da inflação, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central adiantou que não aceitará uma eventual proposta de recondução ao cargo após o fim do seu mandato

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou nesta quinta-feira (29), comentar quão “suficientemente prolongada” deve ser a manutenção da Selic em níveis elevados para se que chegue à metas de inflação.

“Vai depender de como o processo inflacionário se desenvolve. Não temos como quantificar o que suficientemente prolongado. Deixamos claro que existem riscos para as projeções, que estamos vigilantes e que podemos inclusive voltar a subir os juros”, respondeu.

Disse ainda que a possibilidade de retomada da alta dos juros não depende de apenas um fator, mas de um conjunto de variáveis.

“Não tomamos atitudes ligadas a apenas uma variável. Falamos e temos uma preocupação com a inflação de serviços. Tem um tema que ocorre em todo o mundo que é uma mudança estrutural de mão de obra. É um conjunto de fatores”, repetiu.

Ele esclareceu ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) considera como “redor da meta” um intervalo entre 0,2 e 0,3 ponto porcentual para cima ou para baixo.

Decisão dividida

O presidente do Banco Central ainda minimizou a decisão dividida da última reunião do Copom. Ele argumentou que o voto dissidente de dois diretores era por uma alta residual de apenas 0,25 ponto porcentual.

“Não foi uma diferença muito grande. O principal debate era se os 0,25 p.p, (adicionais) fortalecia a mensagem ou não. Entendemos que não fazia tanta diferente, mas alguns membros entenderam que como mensagem era importante. Alguns membros achavam que alguns componentes inflacionários podiam ter impactos mais persistentes”, detalhou Campos Neto.

Questionado se o Copom pretende deixar mais transparente no futuro o posicionamento de cada membro do colegiado, respondeu que ao longo do tempo deve haver um processo para que o mercado olhe mais as opiniões individuais de cada diretor. “Não entendemos que o dissenso é usado para mensagem, mas, sim, para refletir de fato o que aconteceu na reunião”, concluiu.

Diferenças de projeções em relação ao mercado

O presidente do Banco Central repetiu que as diferenças de projeções entre o BC e o mercado para a inflação decorrem de hipóteses e parâmetros.

“Uma delas é a persistência de choques industriais, nosso hiato é mais aberto, há um debate sobre se a inércia mudou ou não, e tem o tema da potência da política monetária. Entendemos as diferenças de projeção e acompanhamos a progressão disso”, respondeu.

Cenário alternativo

Campos Neto disse ainda que o cenário alternativo de inflação apresentado pelo Copom com hiato zero não significa que o colegiado não acredita no seu modelo, que estima o hiato em -0,9% no segundo trimestre. No mesmo período, a mediana do mercado é de -0,2%, segundo o questionário pré-Copom.

Segundo o presidente do BC, a intenção com o cenário alternativo foi “elucidar as possibilidades”. Nesse cenário, as projeções do BC para a inflação ficam um pouco mais altas, mas ainda “ao redor da meta” em 2024 (3,00%). Para 2023, passa de 4,6% no cenário de referência para 4,9% e, para 2024, de 2,8% para 3,00%, nessa ordem.

“Não significa que entendemos que nosso modelo não é bom previsor de hiato. Há muita incerteza. Entendemos que ajudaria a elucidar as diferentes possibilidades com cenário alternativo com hiato zero, lembrando que o mercado tem projeções muito diferentes”, disse ele, na entrevista coletiva do RTI.

Campos Neto considerou que o cálculo do hiato é bastante difícil e tem se tornado mais complexo, com discussões de mudança estrutural na mão de obra após a pandemia de covid-19 e sobre a medição do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci).

“O ponto principal de termos feito o cenário alternativo foi dar um guia para o mercado sobre quais seriam as possibilidades”, repetiu Campos Neto. “O objetivo do exercício alternativo foi pensar qual é o impacto na projeção de visão diferente sobre hiato corrente”, reforçou o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen.

Mandato

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adiantou que não aceitará uma eventual proposta de recondução ao cargo após o fim do seu mandato, em 2024, independentemente de qual candidato a presidente seja eleito este ano.

“O processo de recondução gera um risco, porque quem está querendo ser reconduzido pode acabar sofrendo algum tipo de influência. A autonomia é justamente para isolar essa influência”, respondeu. “Isso não está relacionado a ser um presidente (da República) ou outro. É sobre o que eu acredito ser melhor para solidificar a autonomia do BC”, completou.

Questionado sobre os riscos do cenário eleitoral, Campos Neto repetiu que o BC não comenta sobre política fiscal, mas reforçou a importância de um arcabouço – independentemente de qual seja – que gere credibilidade ao mesmo tempo em que dê atenção para o social.

“O mundo tem dado recados, como o que ocorreu no Reino Unido nessa semana. O mercado reagiu de forma negativa dessa vez a programas com forte componente fiscal. É uma mensagem clara de que os agentes estão preocupados sobre como a conta vai ser paga”, acrescentou.

O presidente do Banco Central enfatizou que tem tido autonomia total desde que assumiu o cargo, mesmo antes da aprovação da lei que deu autonomia formal à autoridade monetária.

“A aprovação lei traz um benefício adicional, pois ela faz com que prêmios de risco em momentos de turbulência sejam reduzidos e isso acaba facilitando a eficiência da política monetária”, respondeu Campos Neto.

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