GUERRA COMERCIAL

Tarifas de Trump e os impactos na economia mundial

Em menos de um mês de mandato, o presidente dos Estados Unidos anunciou diversas tarifas contra parceiros comerciais

Foto: Fórum Econômico Mundial/Mattias Nutt
Foto: Fórum Econômico Mundial/Mattias Nutt

O anúncio de novas tarifas de importação por Donald Trump reacendeu preocupações sobre o protecionismo americano e seus efeitos no comércio global. Entre as medidas, destaque para as taxações sobre aço e alumínio, que podem afetar diversos países, incluindo o Brasil. Mas até que ponto essas políticas realmente representam uma nova guerra comercial?

Embora algumas análises apontem que as tarifas são uma estratégia para pressionar a China, o economista Caio Augusto Rodrigues, do Terraço Econômico, avalia que o impacto no país asiático é indireto.

“Os maiores exportadores de aço e alumínio para os Estados Unidos são Canadá, México e Brasil. Além disso, esses produtos são insumos para a indústria, não bens manufaturados. Isso afetaria bem mais a China”, explica.

Rodrigues lembra que, no primeiro mandato de Trump, tarifas semelhantes entraram em vigor, mas perderam força pouco tempo depois. “Por pressão da própria indústria americana, essas tarifas de 25% foram suavizadas em questão de meses”, afirma.

Nova guerra comercial?

O uso de tarifas por Donald Trump reflete uma estratégia central de sua política comercial, a exemplo das “tarifas recíprocas” anunciadas na última quinta-feira (13). A ideia é impor taxas equivalentes às aplicadas por outros países sobre produtos americanos, como é o caso do etanol brasileiro.

Para o economista, o histórico de Trump sugere que as tarifas funcionam como ferramenta de negociação, em vez de um movimento para uma guerra comercial propriamente dita.

“Baseando-se na gestão anterior de Trump, é mais provável que isso sirva para renegociar acordos e tentar posicionar os EUA em situação mais favorável do que necessariamente uma guerra comercial”, avalia.

Ele também destaca a mudança no tom do discurso do presidente dos Estados Unidos, visto que anteriormente a promessa previa pelo menos 100% de tributação, mas o percentual diminuiu. “Esse começo de Trump II parece ter um certo desespero por entregar promessas mais do que realmente colocar questões relevantes na mesa”.

Efeitos para o Brasil

O Brasil, que tem a China e os Estados Unidos como seus principais parceiros comerciais, precisa adotar uma postura equilibrada para evitar prejuízos. 

“A melhor pedida para o Brasil é agir como o país da diplomacia dos tempos da criação da ONU: baixar a temperatura, falar em união e cooperação com os parceiros”, sugere.

O setor de commodities pode sentir os reflexos da disputa, seja pela queda nos preços devido à menor demanda externa, seja pelo aumento das exportações caso um dos parceiros decida ampliar suas compras. No entanto, Rodrigues alerta para os riscos de uma dependência excessiva de um único mercado.

“Independente de qual seja o parceiro, é sempre melhor diversificar. Aumentar a dependência é aumentar risco”, ressalta o economista.

Impacto global e no consumidor

Com o aumento dos custos de insumos produtivos, os consumidores americanos podem pagar mais caro por itens manufaturados, mesmo que produzidos internamente.

“Só trazer a indústria do mundo todo para a América não será suficiente, porque eles não conseguem produzir todo esse insumo internamente”, explica.

O efeito cascata tende a encarecer produtos ao redor do mundo, atingindo também o Brasil. “O comércio global começa a dar uma reduzida ao passo que seus custos aumentam, o que significa que o mundo inteiro vai acabar pagando mais caro em itens diversos”.

Sobre a postura protecionista do presidente dos Estados Unidos, Rodrigues acredita que dificilmente se manterá no longo prazo.

“Os EUA avançaram muito mais do pós-Segunda Guerra para cá com presença internacional do que com isolacionismo, então é difícil imaginar que essas tarifas amplas como são anunciadas ficarão para sempre”, conclui.