A liberação recente de uma nova variedade de soja resistente ao herbicida dicamba foi considerada prematura e arriscada pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Em entrevista exclusiva ao Canal Rural, o presidente da entidade, Bartolomeu Braz, afirmou que já pediu ao Ministério da Agricultura a revisão dessa decisão, alegando ser necessário uma pesquisa mais aprofundada sobre os impactos da medida no Brasil.
“Essa liberação foi prematura. Ela deve e deverá ter mais pesquisa. O que vimos nos Estados Unidos é totalmente contrário a essa liberação repentina. Os produtores americanos estão sendo obrigados a usar essa tecnologia, com ervas daninhas sem controle e com uma lista de cuidados que aumenta muito a responsabilidade sobre os ombros dos produtores”, afirma ele.
Segundo Braz, muitos processos entre agricultores vizinhos foram relatados durante um tour organizado pela entidade ao país norte-americano. “Fomos informados que muitas ações entre vizinhos estão acontecendo por lá. Isso porque aquele agricultor que não usa dicamba, está se vendo obrigado a usar a soja Xtend porque senão o produto prejudicará sua lavoura”, diz.
O Ministério da Agricultura confirmou na última quinta-feira, 22, a liberação para o uso e a comercialização de sementes de soja resistentes ao herbicida dicamba no Brasil. O Canal Rural entrou em contato com o secretário de Defesa Agropecuária, José Leal, que confirmou a informação, afirmando que diversas reuniões foram realizadas com o setor para autorizar o uso do produto.
A semente que leva o nome comercial de Intacta 2 Xtend vai ser comercializada pela Bayer-Monsanto e deve chegar ao mercado em 2021.
“Não podemos aceitar esse domínio de mercado, o Brasil já evoluiu bastante, temos um clima tropical e ao que parece não temos a necessidade de usar esse produto. Nosso manejo é diferente dos americanos e precisa ser pensado de maneira diferente”, garante o presidente da Aprosoja Brasil. “Já falei com o Ministério da Agricultura para esta liberação seja revista, afinal não pode impor o uso de uma tecnologia, sem antes estudar a fundo seus impactos no país.”