Por 134 votos a 110, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, conseguiu a aprovação do projeto de lei batizado de “Solidariedade Social e Reativação Produtiva”, que busca manter o equilíbrio fiscal, garantir o pagamento futuro da dívida pública — que está atualmente em negociação — e, posteriormente, expandir o gasto social para impulsionar a economia.
Após um longo debate na Câmara dos Deputados, o texto segue agora para o Senado, onde o governo peronista tem maioria. A expectativa é que o projeto seja discutido na Casa ainda nesta sexta-feira, 20, depois do pedido de urgência do presidente.
De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP) Celso Grisi, o pacote criado por Fernández visa dar uma resposta rápida aos eleitores e à comunidade. “Tem uma vertente tributária, para obter recursos e atender questões sociais, de forma a cumprir com promessas de campanha. A outra é financeira, na tentativa de irrigar a economia com pesos, desestimulando investimentos no exterior e compra de dólares”, diz.
Apesar de trazer alguns benefícios, Grisi afirma que o projeto não fornece uma alternativa de crescimento para a economia do país vizinho. “Apesar da perspectiva da alta de consumo, não há nada do lado da oferta que dê sustentação”, afirma.
Diferenças ideológicas e problemas
Fernández decidiu aumentar as taxações cobradas sobre as exportações agrícolas da Argentina, conhecidas como retenciones. Segundo o professor, isso prejudica a competitividade do país e abre espaço para o Brasil. “Mas é lamentável que tenhamos que substituir o trigo argentino, que está ficando inviável”, comenta.
Segundo Grisi, a aliança entre Fernández e Cristina Kirchner traz um apelo muito forte à esquerda e caberá ao Ministério de Relações Exteriores, o Itamaraty, harmonizar as questões ideológicas entre Jair Bolsonaro e o presidente argentino.