Nas últimas duas semanas, o presidente Jair Bolsonaro e membros de sua equipe entraram em contato com presidentes e integrantes dos partidos de centro do Congresso Nacional. Segundo fontes do Poder Legislativo, o presidente está em busca de novas alianças com os partidos, que representam a maioria dos parlamentares, a fim de garantir base de apoio ao governo. Nos bastidores, diz-se que o presidente tem oferecido cargos em fundações e grupos de trabalho do governo como moeda de troca pelo apoio partidário.
A necessidade de reaproximação política seria em função das próprias ações recentes de Bolsonaro, que tem desagradado deputados e senadores. Em fevereiro, o presidente compartilhou, no WhatsApp pessoal, vídeos que convidavam a população a participar de uma manifestação a ser realizada no dia 15 de março. Entre as pautas do movimento estava o fechamento do Congresso Nacional. O presidente chegou a se defender dizendo que as mensagens eram de cunho pessoal e que “qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”. Mas, a justificativa não foi considerada suficiente.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro tem reforçado as críticas públicas feitas ao presidente da Câmara do Deputados, Rodrigo Maia. No dia em que o presidente demitiu Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde, na última quinta-feira, 16, Jair Bolsonaro, em entrevista à CNN, sugeriu que Maia, membro do DEM assim como Mandetta, estivesse tentando tirá-lo da presidência da República.
“O sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas, ele quer atacar o governo federal, enfiando a faca, no sentido figurativo. Se isso acontecer, vão matar a galinha dos ovos de ouro, parece que a intenção é me tirar do governo”, afirmou.
Interlocutores acreditam que, prevendo uma rejeição do DEM por conta da demissão de Mandetta e das críticas feita à Rodrigo Maia, Bolsonaro tenha começado a articular as aproximações políticas com outros partidos de centro como parte de sua defesa.
Reações dos partidos
Mas, as tentativas de acordo para apoio político parecem estar sendo mal-sucedidas. No último domingo, 19, Bolsonaro participou de uma manifestação anti-democrática em Brasília. O presidente chegou a subir em uma caminhonete para discursar aos manifestantes que seguravam faixas pedindo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. O chefe do Executivo disse em certo ponto que a “velha política”estaria no passado.
“Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção têm que ser patriotas. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais do que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente”, afirmou.
Para fontes ouvidas pelo Canal Rural, a insegurança na palavra do presidente supera qualquer intenção de alinhamento. “Nós já sabíamos que o presidente muda de opinião muito rápido, mas fazer aquele discurso enquanto está há dias negociando apoio nos bastidores só mostra que ele não é confiável”.
Outro interlocutor afirmou que a aproximação é benéfica para todo o país, mas há limites. “É preciso alinhar as pautas que estão no Congresso e articular aquilo que é melhor para o Brasil, mas o meu partido não vai aceitar troca de cargos por apoio integral. Esse clima de tensão precisa acabar, mas esse não é o caminho correto. Os líderes tem ido às reuniões e conversado com o presidente, mas não deverá haver fechamento de acordo para sermos base do governo”.