Vacas improdutivas costumam ser descartadas nesta época do ano para renovar o rebanho e manter a produtividade média da fazenda. Mas, animados com a valorização da arroba, pecuaristas estão descartando até mesmo fêmeas em lactação.
Para o produtor de leite Adão Onésio, esses animais não farão falta. “Estou sossegado com a reposição. Descartamos aqueles que não têm um futuro tão promissor, uma produção muito boa”, diz.
O pecuarista Rodrigo Mores não pensou duas vezes: aproveitou o momento para vender 12 vacas, algumas em lactação. Ele acredita ter feito um bom negócio. “Consegui R$ 185 por arroba. Em outros anos, não conseguia isso. O gado leiteiro é menos valorizado porque é um animal com pouco acabamento”, conta.
Mas o abate de vacas leiteiras acende um sinal de alerta no setor, já que pode comprometer a oferta de leite no mercado e aumentar ainda mais os custos de produção. “Se descartar muitos animais, a produção tende a cair. Isso é ruim para o produtor e para a indústria”, diz o gerente técnico da Cooperativa de Leite de Juscimeira (Comajul), Valdair Martinez.
Ele afirma que se a realidade do produtor fosse de vendas diretas de leite, até faria sentido. “Mas, infelizmente, não é. Vai acabar ficando nas mãos de atravessadores, que puxarão o preço para baixo para ganhar margem”, afirma.
O consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Fernando Bueno alerta que quando o preço do leite voltar a subir, o produtor que vendeu pode não ter produção para negociar. “E ele não é um produtor de corte, não tem animais pra vender sempre”, diz.
Atualmente, o preço médio pago pelo litro de leite ao produtor mato-grossense está entre R$ 1,28 e R$ 1,30. Já o custo de produção é estimado em R$ 0,90 por litro.