O Sindicato dos Produtores Rurais de Dom Eliseu e a Aprosoja do Pará realizam neste domingo, 10, uma reunião para discutir a moratória da soja, vista pelo movimento como um “embargo ilegal”. Segundo os agricultores, mesmo apresentando as licenças ambientais exigidas pelo Código Florestal, tradings estão rejeitando os grãos cultivados no bioma amazônico.
“Isso cria insegurança. O produtor faz toda a programação da safra e na hora de comercializar tem dificuldade. Temos oito propriedades, e estamos com problemas em praticamente todas. Mesmo sendo áreas consolidadas, com o licenciamento aprovado pelos órgãos competentes. A moratória da soja está passando por cima do Código Florestal brasileiro“, denuncia o produtor Tarcísio Burim Junior.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, as empresas não vão comprar soja vinda de áreas desmatadas após 2008. “Existe um consumidor lá fora que diz ‘eu não quero soja de área desmatada da Amazônia’. Então, como fornecedores, precisamos cuidar desse mercado”, disse Nassar, em entrevista ao Canal Rural.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan, afirma que a justificativa da Abiove não é verdadeira. “O embargo é mentiroso! O único objetivo das associadas da Abiove e empresas europeias é a manutenção do poder econômico delas. E como produtores e representantes da classe, não podemos aceitar. Se nós temos que respeitar a nossa legislação, eles têm que respeitar os poucos direitos que temos”, diz.
Galvan ressalta que os sojicultores têm expandindo a produção sobre áreas degradas pela pecuária. “Não estamos falando em destruir ou degradar, mas em produzir o alimento do cidadão”, frisa.
Segundo o diretor da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa, a soja ocupa apenas 0,4% do território do Pará. “Poderíamos quadruplicar essa área e não estaríamos ameaçando a Amazônia”, defende.
Dados da Aprosoja indicam que só no município de Dom Eliseu pelo menos 60 produtores estão sendo afetados pela moratória da soja. No Brasil, o número pode chegar a 500. “Isso gera uma insegurança muito grande, porque quem não está na lista hoje, pode estar no ano que vem. Também afasta investidores que podem vir para o nosso estado contribuir com o desenvolvimento”, afirma Vanderlei Ataídes, presidente da Aprosoja do Pará.
Fabrício Rosa reforça, ainda, o efeito cascata que a medida da Abiove tem sobre a sociedade. “Para cada R$ 1 que o produtor coloca dentro da propriedade, ele coloca R$ 3 fora, na cadeia de insumos e serviços relacionados à atividade. Sem essa cadeia, não estamos gerando renda, empregos e impostos, então prejudicamos também a população do município, estado e federação”, finaliza.
* O jornalista viajou a convite da Aprosoja