Empresas exportadoras de alimentos, principalmente da cadeia de carnes, relataram que a China está pedindo a frigoríficos brasileiros que assinem uma carta se responsabilizando integralmente pela carga caso ela esteja contaminada pelo novo coronavírus. Para a nossa equipe, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura disse que essa carta é entre a China e as empresas exportadoras e não tem nada a ver com o governo.
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Segundo o ministério, não vai ser adotada restrição voluntária de exportação de estabelecimentos com casos ou suspeitas de Covid-19 se as empresas estiverem adotando as medidas da Portaria Conjunta nº 19, dos ministérios da Agricultura, Saúde e Economia.
Quanto aos setores que estariam incluídos na solicitação de informação do governo chinês, o ministério informou que o pedido foi de forma genérica, mas o foco da preocupação é a indústria de carne.Segundo a pasta, até o momento, o ministério não recebeu qualquer solicitação de informação sobre exportação de grãos.
Questionado se havia preocupação com suspensão de importação de alguma planta brasileira pela China devido a casos da doença, a exemplo do que ocorreu em outros países, o ministério informou que prestou todas as informações solicitadas e espera que sejam suficientes para evitar qualquer possibilidade de embargo.
Para o comentarista Miguel Daoud, a ação da China faz parte de uma nova realidade do mercado agropecuário. “A pandemia mudará a forma de importar e exportar entre os mercados em decorrência da questão sanitária. O Brasil não tem problema nenhum na questão sanitária, mas ainda enfrentamos um problema gravíssimo na evolução da pandemia. Isso faz com que nossos parceiros comerciais passam a exigir atestados de sanidade. Nesta sexta, esse processo pode derivar para outras medidas e isso faz com que a nossa agroindústria, que é referência mundial, tome algumas medidas. O Brasil já está se adaptando a essa realidade, que é imposta pelo mundo. Evidente que seremos questionados a todo tempo, mas estamos preparados”, disse Daoud.
Daoud avalia, no entanto, que embargos podem surgir por questões que extrapolem o campo da sanidade. “O Brasil pode sofrer punições de mercado com alegações sanitárias, mas que na verdade são manobras de mercado. O Brasil exporta para china 64% da proteína animal e estamos nas mãos deles, assim como estivemos nas mãos da Rússia, que de uma hora para outra, colocou embargos”, relembra.
Para Miguel Daoud, a saída para o Brasil é fazer o que sempre fez e zelar pela qualidade dos produtos, mas que não devemos nos surpreender com embargos causados pela competitividade.