— É uma tecnologia que confere precisão maior. Também fica mais fácil de demonstrar para os produtores — explica Dellavalle, referindo-se à ferramenta desenvolvida pela Basf em parceria com a gaúcha Conectt.
Estudo divulgado ano passado pela Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas (SP), mostrou a existência de apenas 162 desenvolvedores de software para o agronegócio no Brasil, o equivalente a 2% do total das empresas do ramo instaladas no país. Embora a atividade represente somente 2,6% das vendas, é uma das que mais crescem. Aos poucos, as tecnologias da informação e da comunicação se tornam tão essenciais na agricultura como em outras atividades. O dado mais recente da Associação Brasileira das Empresas de Software mostra que, em 2010, as vendas para o agronegócio cresceram 53% ante 2009, à frente de indústria, comércio, serviços e finanças.
Desenvolvido na década de 1990 para a gestão de propriedades mais voltadas à pecuária, o CR Campeiro, criado pelo professor Enio Giotto, do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é hoje um dos mais aplicados em agricultura de precisão no país e passou a ter uma versão para Android. No primeiro mês, cerca de 300 pessoas baixaram o aplicativo que permite, por exemplo, mapear a propriedade ou montar uma malha de amostragem de fertilidade do solo. Para Giotto, ainda há grandes barreiras à disseminação das tecnologias digitais no campo. Uma delas, avalia, é a falta de conhecimento dos produtores. Assim, as ferramentas são hoje mais utilizadas por assistências técnicas altamente especializadas. Outra dificuldade está no acesso à internet nas áreas rurais, mesmo nos telefones celulares, pela precariedade ou inexistência de sinal.
— Uma máquina na lavoura poderia ser monitorada de dentro de casa. Ou o gado ser vacinado no brete e o dono da fazenda, em Porto Alegre, acompanhar em tempo real — ilustra.
Percepção igual tem a chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Informática, Silvia Massruhá.
— São necessárias políticas de capacitação em médias e pequenas propriedades para a adoção da agroinformática. Por outro lado, é preciso resolver o problema de infraestrutura, como energia e telefonia — entende.
Apesar dos obstáculos, segundo Silvia, já há grande busca por softwares para a área agrícola e a demanda tende a disparar nos próximos anos em função da necessidade de conciliar o aumento da produtividade com eficiência energética, conservação de recursos hídricos, certificação e rastreabilidade. O produtor do futuro estará cada vez mais conectado.
O olho eletrônico também engorda o boi
Mesmo eletrônico, é o olho do dono que engorda o rebanho. No escritório, em casa ou em viagens, o pecuarista Eduardo Borges de Assis não perde de vista o plantel na Fazenda Santa Terezinha, em Jaquirana, a 200 quilômetros da Capital. Como mora em Porto Alegre e consegue estar na propriedade apenas uma ou duas vezes por semana, montou um sistema de monitoramento com 16 câmeras nos principais pontos da fazenda para acompanhar online o trabalho com os animais da raça simental. Assim, pode ver as imagens em monitores, smartphones e no tablet.
— É uma forma de visualizar o que ocorre durante a semana nas tarefas de manejo, vacinação, pesagem e tratamento dos animais. E é possível ainda interferir no trabalho — explica.
O sistema também se tornou uma ferramenta de venda. Antes, quando aparecia algum interessado em adquirir animais, Assis tinha de viajar três horas até a fazenda. Agora, o comprador pode analisar touros e ventres em tempo real no monitor do escritório.
— Isso economizou até 70% das viagens que teria de fazer — diz Assis.
Na Expointer, o pecuarista montou um sistema de monitoramento com oito câmeras que permite acompanhar o que está ocorrendo no estande da Santa Terezinha mesmo quando não está no parque. Instalou ainda um totem que pode tanto receber imagens ao vivo da propriedade em Jaquirana quanto passar.