Apesar do alto endividamento, o setor sucroenergético brasileiro está otimista com os sinais de confiança da indústria internacional. E o apelo ambiental e a capacidade produtiva do país colocam o etanol no centro de um amplo debate. Esse assunto foi discutido nesta segunda-feira, dia 17, durante o primeiro dia da 16ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol, realizada na capital de são Paulo.
setor produtivo do Brasil – maior fabricante de etanol do mundo – está confiante em políticas públicas que estimulem mais investimentos na atividade. A montadora de automóveis Nissan, por exemplo, vem trabalhando há cinco anos num protótipo que permite que o veículo rode movido a energia elétrica gerada por bioetanol, o e-Bio. A expectativa da montadora é que o modelo se torne comercial só em 2020, mas a presença da tecnologia na conferência lembrou a demanda do mundo por energia limpa e o potencial brasileiro na produção de biocombustíveis.
O e-Bio custaria o equivalente a um terço de um veículo movido a gasolina. “O Brasil tem a vantagem competitiva por que já possui uma estrutura de abastecimento de etanol instalada. Existe uma grande expectativa desse protótipo no país”, afirma o diretor da Nissan Harushito Mori.
O diretor da Datagro Guilherme Nastari afirma que o mundo está sinalizando que vai precisar de mais etanol. “E o Brasil, como um dos maiores produtores, está preparado para ser fonte disso”, disse.
Para produzir mais e melhor, a iniciativa privada e o governo estudam soluções para enfrentar uma série de problemas, entre eles o endividamento do setor, que chega a R$ 120 bilhões. O presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha, a cadeia teria sofrido por políticas equivocadas do governo federal. Entre 2008 e 2014, por exemplo, os combustíveis fósseis foram desonerados, segurando o preço da gasolina. “O Brasil foi na contramão do mundo: nós sujamos a matriz limpa, energética e renovável que tínhamos”, afirmou.
Segundo Rocha, o governo precisa ser claro quanto à política de preço da gasolina. “E, se possível, desonerando a energia limpa”.
Além de incentivos como a criação de diferenciais tributários à produção e estímulos de investimentos, a conferência debateu propostas polêmicas, como a lançada pelo governador de Goiás. O estado, que mais registrou crescimento na produção de etanol nos últimos 15 anos, quer aumentar os impostos sobre os principais concorrentes dos biocombustíveis.
Açúcar
Durante a conferência, o presidente do Conselho de Administração da Copersucar, uma das principais tradings de açúcar e etanol do mundo, Luís Roberto Pogetti, afirmou que a expectativa de um mix ainda mais açucareiro na safra de cana-de-açúcar do ano que vem no Centro-Sul do Brasil não deve se traduzir em maior produção do alimento.
Ele prevê que o incremento de produção atinja, no máximo, 1 milhão de toneladas no próximo ciclo. “O que aumenta em (mix de) açúcar cai em cana”, afirma Pogetti.
Os preços internacionais do açúcar dispararam mais de 50% neste ano na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) em virtude dos déficits de produção esperados para este e para o próximo ano. A alta das cotações estimulou a maior fabricação do alimento no Centro-Sul, com o mix no acumulado da atual safra em cerca 45% da oferta de cana direcionada para o adoçante. No ciclo anterior, esse porcentual se aproximava de 40%.
Pogetti comentou também sobre a nova política de preços de combustíveis da Petrobras e disse que o “setor (sucroenergético) não pode ser contra” às novas medidas da estatal, que dão previsibilidade à formação das cotações dos produtos. Entretanto, defendeu que o “etanol tenha um papel de longo prazo dentro da matriz energética nacional”. “Ainda não temos esse papel”, frisou.
Em sua avaliação, porém, o governo tem “bom senso” em torno da valorização de biocombustíveis. “Mas a prioridade agora é a agenda macroeconômica”. Para ele, resolvidos problemas estruturais da economia nacional, o governo poderá trabalhar em medidas que tributem combustíveis poluentes, como a gasolina.
Para o ministro interino de Minas e Energia, Paulo Pedroso, o governo de Michel Temer não trabalha com o modelo intervencionista no mercado de combustíveis. “Trabalhamos com o modelo de resgate econômico para retomada deste e demais setores”, diz.