Depois da estiagem que devastou lavouras e pastagens no Rio Grande do Sul, produtores gaúchos movidos pela busca de autonomia contra a ancestral dependência do clima bateram recordes na Expointer. Negócios fechados até as 15h deste domingo, dia 3, último dia da feira, chegaram a R$ 2,036 bilhões, dos quais R$ 2,020 bilhões foram investidos na compra de máquinas e implementos agrícolas, boa parte financiada em condições facilitadas, com juro menor e prazos maiores.
Animados pela alta na cotação da soja, pela previsão de clima favorável e pela facilidade de crédito, mas também movidos pela determinação de alcançar autonomia frente ao risco, os produtores investiram. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers), Claudio Bier, a redução no juro do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) para 2,5% ao ano, anunciada na quarta-feira, dia 29, pelo governo federal, foi decisiva para as vendas dos últimos três dias. Isso significa que será devolvido ao banco um valor menor do que o emprestado, corrigido pela inflação.
– Soubemos de produtores que já tinham fechado negócio e depois voltaram para a Expointer para comprar mais – ressaltou Bier.
Vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira avaliou que a pujança da Expointer aponta para uma safra de alta produção. Fábricas de máquinas e implementos estão dobrando turnos para atender aos pedidos.
– Com esses preços, o produtor está mais animado do que nunca. Esses números refletem o ânimo do produtor, que entendeu o recado dos estímulos, e está investindo fortemente em tecnologia – destacou Gedeão.
Governo promete melhorar parque
O que chamou a atenção, na Expointer, foi a preocupação com a falta de chuva. As vendas de equipamentos de irrigação – foram 160 pivôs – chegaram a R$ 55,7 milhões. O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, diz que é indispensável poder armazenar a água em época de escassez.
Mas o que move os produtores a investir tanto depois de pesadas perdas com a última safra? Especialista em psicologia rural e desastres, Eveline Favero lembra que a agricultura é atividade de “ampla valorização familiar” e busca de autonomia. Ao apostar em tecnologia, produtores tencionam se precaver das intempéries para aumentar a segurança e o conforto.
– É preferível atravessar a crise do que perder a autonomia – interpreta Eveline, integrante do Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária, da UFRGS, e do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas em Desastres (Ceped/RS).
Se os produtores investem, a diretoria do Parque de Exposições Assis Brasil começa o planejamento para 2013. Com a saída dos animais a partir desta segunda-feira, dia 3, a primeira medida será a drenagem das pistas centrais de julgamentos, com início prometido para esta semana. Também foi anunciado o cercamento do parque. Um projeto apresentado ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) prevê a ampliação da rua que fará a ligação entre a Rodovia do Parque e a BR-116. Com a obra, o cercamento terá recuo em relação ao projeto inicial. Em 2013, o novo pavilhão da agricultura familiar deve ser entregue. No governo gaúcho, a expectativa é de que a Expointer seja a arrancada para uma safra recorde.
Lições para o futuro da feira
Depois de um ano para guardar na memória, embora ainda tumultuado pela dificuldade de acesso, a avaliação é de que a Expointer melhorou em relação ao ano passado, como na eficiência das equipes que prestam serviços. Mas o desempenho ainda foi considerado insuficiente nas condições das pistas de provas, nos espaços reservados aos animais e no acesso aos milhares de visitantes. O diagnóstico é baseado em opiniões de produtores, criadores e de representante do governo envolvidos na organização da feira. Entre elogios e ressalvas, todos apresentam sugestões para o próximo evento. Algumas, como uma solução para o sempre complicado trânsito em torno do Parque de Exposições Assis Brasil, dependem de investimentos federais.
O que funcionou
– Para os expositores, melhorou o acesso ao parque, mesmo em horários de alta movimentação. O portão 10, exclusivo para produtores, criadores, fabricantes de máquinas e outros participantes, não registrou filas como em anos anteriores.
– O desempenho das equipes de apoio, de veterinários e de técnicos foi elogiado pelos expositores.
– O atendimento dos porteiros foi mais eficiente e educado.
– Inspeção das condições de trabalho pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) não identificou irregularidades. Em 2011, havia sido verificado que trabalhadores estavam dormindo nas baias, com os animais, em três cabanhas do pavilhão do gado de corte, que acabaram autuadas.
– O serviço de limpeza das instalações melhorou em relação ao ano passado.
O que não funcionou
– Acesso ao parque nos finais de semana ainda é um problema a resolver. Falta sinalização adequada e melhor organização do trânsito.
– Apesar da ampliação de três mil vagas, o estacionamento nos finais de semana também ainda está longe de atender às necessidades.
– Drenagem da pista do Freio de Ouro, cuja prova foi realizada na lama. Outras pistas também tiveram problemas nos primeiros quatro dias, todos sob chuva.
– Pavilhões do parque tiveram de receber remendos de última hora para encobrir a ferrugem da base dos pilares.
– A reposição das camas (feitas de feno e palha) para os animais em exposição foi lenta.
– A iluminação nas instalações dos animais não atendeu às necessidades.
– Faltam opções na praça de alimentação para expositores e visitantes.
Sugestões para 2013
– Campanha mais intensa para que os visitantes evitem ir de carro ao parque. Em contrapartida, é preciso melhorar no transporte público (trensurb e ônibus).
– Alguma forma de transporte entre o estacionamento dos visitantes e as áreas de exposição, que ficam distantes. Os próprios expositores sugerem carros elétricos ou vagões puxados por tratores como opções.
– Construção de pista coberta para melhor as condições de provas e julgamentos, já que a chuva sempre acompanha a realização da feira.
– As provas finais do Freio de Ouro, que têm repercussão internacional, precisam de pista coberta.
– A própria administração da feira sugere que há necessidade de mais espaço para a exposição de animais.
– Reduzir o acesso do público aos animais, para não aumentar o estresse de cavalos, vacas, touros e ovelhas habituados ao silêncio e à tranquilidade do campo e evitar acidentes envolvendo os próprios visitantes.