Podia passar os finais de tardes na rede de sua casa de três cômodos, afinal, é o período de férias de seu emprego como funcionário de serviços gerais da prefeitura de sua cidade. Mas na época da Expointer, não iria perder a chance de ganhar um dinheiro a mais e aceitou o convite de Ruy Selbach Barreto, proprietário da 53.
Por R$ 100,00 diários livres de almoço, jantar e café, Jamir dá duro desde cedinho da manhã até a última hora da noite. Além disso, o funcionário público e pequeno produtor curte a Expointer como um velho sonho.
– Não pensei que era desse tamanho todo. Parece uma cidade. Deve ter gente se perdendo – disse Jamir, referindo-se ao parque.
Guabiju tem 2,5 mil habitantes, a rigor, muito menor que a Expointer em dias normais. Jamir tem experiência em exposições de sua região. Sempre que pode, concilia o trabalho na prefeitura com a lida nas feiras locais, como as de Marau, Parai, Vila Maria, André da Rocha. Mas, agora, aos 50 anos, ele teria de dar o pulo e arranjar um emprego na exposição da cidade grande. Foi o que fez. Começou com uma espécie de pré-temporada na Cabanha 53. Ficou oito dias na propriedade aclimatando-se aos animais, e permitindo que os animais se afeiçoassem a ele, afinal, é necessária uma empatia.
Na pré-temporada, o peão Jamir Gabana recebeu R$ 80,00 mais comida. Tudo somado, dobrou os R$ 1,2 mil de salário da prefeitura.
– Estou ganhando para trabalhar na feira grande da Capital – afirma Gabana.
Em Esteio, o peão limpa o esterco, dá água e banho e leva para passear os touros Xerife, Sherlock, Ladino e a fêmea Syrena e sua filha Beyonce, uma pequena de três meses que já exibe 180 quilos. O proprietário Ruy Barreto justifica a contratação temporária porque é necessário deixar funcionários na propriedade, que segue a lida. Quando do início dos julgamentos da raça, outros tratadores mais experientes chegarão para tomar as rédeas. Até lá, Jamir dá conta da cama de areia dos animais desde as 7h. Trabalha até as 20h. Para um pouco e, antes de dormir, dá uma nova passada nos boxes para limpar os últimos estragos. Menos mal que o alojamento dos peões dispõe de boa cama em beliches e ar-condicionado.
Mesmo com os extras colhidos na Expointer, Jamir jura que não trocará a sua Brasília verde, ano 1980 e original, que “nunca foi batida”.