O setor produtivo do Rio Grande do Sul e lideranças políticas foram ouvidas durante um encontro do Ciclo de Palestras e Debates da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado. O senador federal Luis Carlos Heinze (PP) conduziu o debate sobre o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul.
Negociado há 20 anos, o tratado divide opiniões e traz receios a algumas cadeias, que se sentem fragilizadas pela falta de competitividade frente a outros países. É o caso do alho, por exemplo, que sofre concorrência com o produto argentino. Os setores de vinhos, leite e olivicultura também estão preocupados.
Os produtores de lácteos garantem que o problema passa principalmente pela falta de incentivo. “Temos que concorrer com produtores da União Europeia, que tem subsídios, e nós com essa carga de impostos”, diz o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva.
Heinze deixou bem claro seu posicionamento e criticou com números o acordo. “Nossa preocupação é que na UE eles subsidiam seus agricultores. Em 2018. eles receberam US$ 126 bilhões, enquanto os brasileiros receberam US$ 7 bilhões”, afirma. Outro ponto criticado pelo parlamentar é a carga tributária, que no Brasil é de 30% e na Europa, 10%.
O professor do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Júlio Barcellos, diz que não atendemos aos padrões de conformidade e por isso não exportamos mais para União Europeia. “O mundo sanitário domina o acordo comercial. O princípio da precaução permite que qualquer país crie barreira técnica para produto porque ameaça a economia e saúde daqueles consumidores”, diz.
Barcellos defende, ainda, que é fundamental discutir o assunto junto à academia. “Precisamos de inteligência estratégica, e a universidade pode contribuir analisando cadeias produtivas que terão dificuldades enormes de se ajustar, principalmente setor de lácteos, por não ter escala. No momento que compreendermos essa realidade, estaremos preparados para apresentar soluções a lideranças agrícolas que devem levar estudos bem construídos para o trabalho político ser eficiente”, conta.
O secretário de Agricultura do estado, Covatti Filho, diz que o acordo é positivo na visão técnica da secretaria, mas é preciso ter atenção especialmente a questões sanitárias. “Por isso nós estamos fazendo processo de reestruturação”, relata.
“Não temos medo de competir, mas temos que ajudar nossos produtores e ter cuidado para não desestruturar setores importantes da economia gaúcha”, opina o ex-secretário de Agricultura do RS e deputado estadual, Ernani Polo.
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, tem certeza que o acordo é positivo e vem em boa hora. “Temos governos alinhados, é o caso do governador Eduardo Leite com Bolsonaro e seu ministério. Esse acordo vem obrigar o país a se modernizar, se não quisermos perder nossa indústria”, diz.
A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) também está confiante, apesar de ser prejudicada com a entrada de arroz importado do Mercosul. “Pode representar abertura de mercados novos e também a entrada, finalmente, do arroz com denominação de origem. Está mais do que na hora de achar mercado para esse produto”, frisa o presidente da entidade, Alexandre Velho.