O acordo final aprovado neste sábado, 13, na Convenção do Clima (COP26) de Glasgow, na Escócia, é um compromisso, mas não é o suficiente, declarou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em vídeo publicado em suas redes sociais.
“(O acordo) reflete os interesses, as contradições e o estado de vontade política do mundo hoje. É um passo importante, mas não é o suficiente”, afirma Guterres. Ele defende a necessidade de acelerar as ações climáticas para limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC. “É hora de ligar o modo emergência”, ressalta.
Guterres ainda deixou um recado para jovens, comunidades indígenas, líderes mulheres e todos os ativistas: “Sei que vocês estão desapontados, mas o caminho para o progresso nem sempre é uma linha reta. Às vezes há desvios e valas. Mas sei que conseguimos chegar lá. Estamos na luta das nossas vidas e essa luta deve ser vencida. Nunca desista nem recue, continue indo em frente. Estou com vocês”, afirmou.
Especialistas esperavam mais
Na avaliação de especialistas e organizações da sociedade civil, o acordo fechado na COP26 é “pouco ambicioso diante da urgência de conter o aquecimento global e adia, mais uma vez, a solução para o clima”.
“É pouco ambicioso. Foi uma COP muito voltada para o artigo 6 (regulação do mercado de carbono), como se ele fosse resolver todos nossos problemas”, diz Maureen Santos, professora de Relações Internacionais da PUC-RJ.
“A salvação do clima foi adiada mais uma vez, para 2022, quando o mundo volta a se reunir em Sharm el Sheikh, no Egito”, avaliou, em nota, o Observatório do Clima.
“O prazo para mantermos o aquecimento global em limites seguros para a humanidade está se encerrando. Os resultados desta COP foram decepcionantes e não podemos mais ficar esperando a próxima”, disse Maurício Voivodic, diretor executivo da WWF-Brasil.
A ativista sueca Greta Thunberg, de 18 anos, também criticou os resultados. “Um breve resumo da COP: Blá, blá, blá”, escreveu no Twitter.
Já Roberto Waack, o fundador da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, vê o resultado final como positivo, apesar da ausência de um compromisso mais forte sobre financiamento. A Concertação é uma rede de pessoas, instituições e empresas para buscar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável.
Ele credita ao Itamaraty o desempenho das negociações brasileiras e os compromissos assumidos pelo país. “Sem o (o ex-ministro do Meio Ambiente) Ricardo Salles, os negociadores ficaram mais à vontade e livres para fazer seu trabalho.” Mas o descompasso entre a imagem que o Brasil vendeu e a realidade com os sucessivos recordes de desmate na Amazônia cobra seu preço. “O Brasil só fica de pé se a floresta ficar de pé. Caso contrário, vamos permanecer de joelhos”, diz.
Na avaliação de Paulo Artaxo, autor-líder de um dos capítulos do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) e professor da Universidade de São Paulo (USP), nações desenvolvidas bloquearam avanços que seriam importantes para estabilizar clima no planeta. “Acabamos perdendo mais uma oportunidade de ouro na negociação climática”.
Artaxo lembra que países desenvolvidos investem fortunas em combustíveis fósseis a cada ano e só agora se fala em sair da dependência desse tipo de recurso. Mudanças de última hora no texto final do acordo da COP26 reduziram ainda mais as ambições em relação aos combustíveis fósseis. “Basicamente, está se continuando o mesmo sistema que nos levou à crise climática que temos hoje”.