A broca do café tem sido a principal preocupação do setor cafeeiro nesta safra. Segundo a Cooxupé, principal cooperativa de café do país, até o momento 6% dos lotes enviados a entidade apresentam danos causados pela praga. Além de reduzir a produção, o inseto também prejudica a qualidade da bebida.
Nos últimos dez anos a quantidade de cafés brocados recebidos pela Cooxupé triplicou. Em 2007, cerca de 2% do volume total de grãos processados pela cooperativa registraram algum tipo de lesão causada pela praga. Este ano, o número subiu para 6%, o que corresponde a mais de 110 mil sacas. “Essa porcentagem deve aumentar ainda mais, porque vai começar a entrar os cafés que chamamos de chão ou de varrição. Estes cafés devem apresentar maior índice de infestação de broca”, diz o gerente do departamento técnico da Cooxupé, Mário Ferraz de Araújo.
Nesta safra a cooperativa espera receber 4,5 milhões de sacas de café das regiões de Sul de Minas Gerais, Cerrado Mineiro e Alto Mogiana. Especialistas acreditam que a falta de uma boa colheita e o clima, foram fatores determinantes para o aumento da praga. “Em abril e maio ocorreram chuvas atípicas nessas regiões e isso contribuiu para maior reprodução da broca. A lavoura está no período de frutificação e praga ataca os chumbinhos, chumbões, verdes, cereja e até grãos secos”, garante o professor da Universidade federal de Lavras, Geraldo Andrade.
Outro fator que tem contribuído para maior presença da broca nas lavouras, é o aumento no preço dos defensivos utilizados no combate à praga. Os produtos atuais chegam a custar até 10 vezes mais que o antigo Endosulfan, que era eficiente no manejo da broca, mas que foi banido em 2003, por ser considerado prejudicial a saúde humana.
Segundo estudos da Cooxupé, a broca pode causar até 13% de queda na produção das lavouras e redução de 21% no peso dos grãos. Além de prejudicar a qualidade da bebida. Números que vão pesar no bolso do cafeicultor.
Uma normativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que entrou em vigor em 2014, afirma que os lotes de cafés que apresentarem índice de infestação acima do permitido pelo documento não podem ser comercializados no mercado interno. “A normativa restringe o número de fragmentos de insetos da broca a 60 fragmentos para cada 25 gramas de café torrado moído e isso. Não é só o produtor que está bancando esse prejuízo, mas toda a cadeia”, comenta Araújo.
Dos quase 14 mil cooperados da Cooxupé, cerca de 16% estão tendo problemas com a broca na propriedade. O cafeicultor Edvaldo Santos, é um deles. Em sua propriedade, próxima a Poços de Caldas (MG), o foco é a produção de cafés especiais. Alguns talhões apresentam até 10% de infestação, o dobro do limite considerado alto. O cafeicultor acredita que além da queda na produção, a qualidade do produto também será impactada.
“A nossa produção é direcionada para o Japão. Temos compradores que vêm aqui todos os anos para verificar a produção. Com essa infestação, parte da produção ficará no mercado interno. Esse café era para ter um bom valor agregado e agora sairá por R$ 300, R$ 400 no máximo. As vezes até menos, vai depender da venda no momento”, afirma Santos.