Em algumas regiões de Mato Grosso, as pragas das lavouras de algodão estão migrando para a soja, como a helicoverpa armígera e a mosca branca. O principal motivo é que o vazio sanitário do grão acabou antes da colheita da pluma. Com a situação, os sojicultores pedem mudanças no calendário.
Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a safra de soja está adianta no estado. Mais de 31% da área já foi plantada, o maior percentual desde 2009. Apesar do avanço, a orientação da Aprosoja/MT é que os produtores tenham cautela na hora do plantio, pois este é um ano difícil para acessar o crédito e também para conseguir sementes para um possível replantio. “A nossa média para Mato Grosso está em torno de 53 sacas, mas sabemos de casos onde a produção tem atingido mais de 60 sacas. Um bom plantio é o início de tudo”, afirma o presidente da entidade, Endrigo Dalcin.
O produtor rural Carlos Belló segue a risca as recomendações. Ele esperou uma boa umidade do solo para começar a plantar no município de Tapurah. “No ano passado tivemos problemas com o clima, mas neste ano foi melhor e, por isso, o plantio acelerou. Em 10 dias será finalizado”, conta.
O presidente do Sindicato Rural de Tapurah, Silvério de Oliveira, diz que a cidade já está com 70% da soja plantada, e alguns produtores já encerram o período de semeadura. De acordo com ele, ao contrário do ano passado, ano o clima está favorável para a cultura.
Além do fator climático, a antecipação do plantio também tem outro motivo: os produtores querem escapar do ataque de pragas e doenças que, em 2015, comprometeram a produtividade. O avanço no cultivo também tem causado preocupação. As soqueiras da safra de algodão que ainda não foram destruídas por conta do calendário de vazio sanitário acabam servindo de hospedagem de pragas, como a lagarta helicoverpa e a mosca branca.
“Estamos recebendo reclamações dos produtores de que o vazio sanitário da soja terminou no dia de 15 de setembro e tivemos um mês de convívio entre as duas culturas. Isso torna-se preocupante porque houve uma ponte das pragas do algodão se transferindo para a soja. Concordo que seja revisto esse vazio sanitário do algodão porque essas pragas aumentam o custo do produtor”, afirma Silvério de Oliveira.
O produtor Carlos Belló concorda. “Choveu mais neste ano, dando condições para que o pessoal se adiantasse na soja, que está verde e o que é um problema. Deveriamos sentar e rever conceitos, que eu acredito que devem ser mudados”, diz.