O corredor de grãos do Mar Negro foi estabelecido em 22 de julho de 2022, como um esforço de colaboração entre a Rússia e a Ucrânia, países que estão em guerra desde fevereiro de 2022. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Turquia também deram seu apoio a esta iniciativa, que permitiu à Ucrânia retomar suas exportações.
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Inicialmente, conforme lembra a consultoria Hedgepoint Global Markets, o acordo deveria ser estendido por 120 dias de cada vez. Nesse sentido, a segunda renovação ocorreu em 18 de março. Agora, os 60 dias seguintes deverão ser cruciais para o corredor de grãos. Isso porque a Rússia ameaça se retirar da iniciativa neste período se a Ucrânia e as nações ocidentais não cumprirem com algumas das exigências russas.
Apesar da produção menor desde o início da guerra, a Ucrânia continua sendo muito relevante para o fluxo comercial global dos grãos. De acordo com o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o país exportou mais de 33 milhões de toneladas de grãos (milho e trigo) no atual ano-safra, dos quais quase 25 milhões de toneladas foram transportadas por navios — passando justamente pelo Mar Negro.
Em tempos normais, antes da guerra contra os russos, os grãos da Ucrânia desacelerariam entre março e junho. “Normalmente, a maior parte de seus grãos da safra anterior já está vendida nesta época do ano e as exportações só retornam quando o trigo começa a ser colhido em julho. Entretanto, as exportações historicamente baixas têm mantido estoques altos, o que provavelmente permitirá aos exportadores ucranianos manter um bom fluxo até a próxima campanha de comercialização”, reforça a equipe da Hedgepoint em relatório sobre o acordo de grãos.
Os cenários diante da renovação do acordo do corredor de grãos
Além disso, as inspeções dos navios ucranianos em Istambul devem ser mais rápidas nas próximas semanas. Sob o acordo, a Rússia tem o direito de inspecionar navios para garantir que eles não estejam trazendo carga para a Ucrânia, como armas, por exemplo.
“O produto ucraniano permanece muito competitivo em termos FOB” — Hedgepoint
Uma das supostas estratégias russas para ganhar vantagem nas negociações do corredor de grãos é atrasar as inspeções. “olhando mais especificamente para os mercados de trigo, o produto ucraniano permanece muito competitivo em termos FOB quando comparado com seus principais concorrentes (Rússia e França). Isso deve continuar favorecendo a demanda do trigo ucraniano a curto prazo”, observa a consultoria.
Ainda de acordo com a Hedgepoint, a extensão do acordo também pode reduzir o custo de frete da Ucrânia. Depois de vir de uma tendência descendente desde 22 de novembro, esses custos têm aumentado ligeiramente desde a segunda metade de fevereiro. “O custo do frete russo para a Turquia também aumentou no mesmo período. Portanto, esta mudança está provavelmente ligada às tensões relativas à prorrogação do acordo.”
Por outro lado, as ameaças russas de permitir apenas uma renovação de 60 dias é algo a ser observado de perto, já que os importadores podem não conseguir acessar as próximas colheitas da Ucrânia.
Dadas as estimativas atuais de produção do Ministério da Agricultura da Ucrânia (Minagro) de 21,7 milhões de toneladas de milho e 16,6 milhões de toneladas de trigo, o país do Mar Negro pode exportar cerca de 20a 25 milhões de toneladas de grãos.
Embora as exportações por ferrovia e veículo tenham crescido desde o início da guerra, as exportações por estes transportes alternativos só conseguiram atingir um máximo de 1 milhão de toneladas por mês desde o início da guerra. “Dados estes números, se o acordo do corredor de grãos ruir, metade da colheita de grãos da Ucrânia poderá ficar presa no país”, complementa o time da consultoria.
Pauta para o ‘Mercado & Companhia’
O tema envolvendo a renovação do acordo de grãos entre Rússia e Ucrânia ganhou destaque na tela do Canal Rural. Analista de grãos e macroeconomia da Hedgepoint, Alef Dias foi entrevistado na tarde desta sexta-feira (31). Ele conversou com a jornalista e apresentadora Pryscilla Paiva durante a edição do ‘Mercado & Companhia’ (vídeo acima).
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Editado por: Anderson Scardoelli.
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