Tarifas têm impactos negativos imediatos e, em muitos casos, duradouros nas fazendas norte-americanas e na economia rural de toda a nação. É o que diz trecho de comunicado da American Soybean Association (ASA), entidade que representa cerca de 500 mil sojicultores do país.
Para a associação, uma guerra comercial entre o país e a China — tema recorrente nas falas do presidente Donald Trump — beneficiaria principalmente o Brasil, maior produtor da oleaginosa no mundo e que vem nas últimas décadas aumentando siginificativamente a suas remessas de produtos agropecuários ao gigante asiático.
Reflexo desse crescimento é que em 2024, produtores brasileiros exportaram quase 69 milhões de toneladas do grão ao gigante asiático, atingindo receita de, aproximadamente, US$ 30 bilhões.
De acordo com a ASA, seus membros mantém há anos a posição de que não apoiam o uso de tarifas, visto que elas ameaçam mercados importantes e aumentam os custos de insumos para os agricultores.
- Veja em primeira mão tudo sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo: siga o Canal Rural no Google News!
“Os fazendeiros estão frustrados. Tarifas não são algo para se encarar levianamente e ‘se divertir’. Elas não só atingem diretamente nossos negócios familiares no bolso, mas também abalam um princípio fundamental sobre o qual nossos relacionamentos comerciais são construídos, que é a confiabilidade. Ser capaz de fornecer a eles [compradores internacionais] um produto de qualidade de forma consistente e confiável”, diz o presidente da entidade e produtor de soja de Magnolia, Kentucky, Caleb Ragland.
Supersafra de soja brasileira à espreita
Ragland destaca que os produtores de soja dos Estados Unidos enfrentam impactos “enormes e desproporcionais de interrupções no fluxo comercial”, particularmente para a China, maior mercado para os sojicultores norte-americanos.
“Sabemos que os produtores estrangeiros de soja no Brasil e em outros países estão esperando colheitas abundantes este ano e estão preparados para atender a qualquer demanda decorrente de uma nova guerra comercial entre Estados Unidos e China”, ressalta.
Segundo ele, os produtores de soja do país ainda não recuperaram totalmente os volumes de mercado dos impactos prejudiciais da guerra comercial de 2018. Assim, uma nova rodada de tarifas agravaria ainda mais as dificuldades econômicas dos agricultores norte-americanos.
A preocupação da ASA a respeito da rentabilidade dos produtores do país tem lastro nos números: na safra 2023/2024, os exportadores dos Estados Unidos enviaram 46,1 milhões de toneladas de soja para mercados internacionais, o que totalizou quase US$ 24 bilhões em vendas. Contudo, durante a guerra comercial de 2018 com a China, a agricultura dos Estados Unidos perdeu mais US$ 27 bilhões, sendo a soja responsável por 71% desses prejuízos.
“Os produtores de soja continuam a lutar com impactos de reputação de longo prazo, pois os mercados que eles trabalharam por anos para construir — mais de 40 anos para a China — são baseados na capacidade de fornecer uma safra confiável e de qualidade”, diz trecho do comunicado da entidade.
Segundo o presidente da ASA, diferentemente de 2018, os agricultores estão em uma situação financeira mais provisória em 2025. Isso porque os preços das commodities caíram quase 50% em relação há três anos.
A associação frisa que os produtores norte-americanos estão gerenciando suas propriedades em um período em que os custos de terra e insumos como sementes, defensivos e fertilizantes estão altos, o que significa margens muito mais estreitas. Tal cenário resulta em “menos gordura” para queimar quando as tarifas tornam as circunstâncias ainda piores.
Tarifas a México e Canadá
As tarifas de 25% do presidente Trump sobre produtos de México e Canadá entraram em vigor logo após a meia-noite da última terça-feira (4). Contudo, nesta quinta-feira (6), o presidente norte-americano suspendeu a medida aos mexicanos até o dia 2 de abril.
O Canadá, por outro lado, respondeu rapidamente com planos de também impor tarifas de 25% sobre quase US$ 100 bilhões em importações dos Estados Unidos em duas parcelas.
O governo Trump adicionou, ainda, uma tarifa adicional de 10% sobre as importações chinesas. A resposta da China veio rapidamente: anúncio de tarifas retaliatórias de 10% sobre a soja dos Estados Unidos e ações adicionais que limitam o acesso ao mercado.
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja dos Estados Unidos, a entidade representa quase meio milhão de agricultores norte-americanos que cultivam soja e dependem do comércio bidirecional que entra e sai do México e do Canadá.
“Esses dois mercados não são apenas vitais para a exportação de soja integral, farelo de soja e óleo de soja, mas também dependemos deles para fertilizantes e outros produtos necessários para produzir com sucesso nossas safras. Por exemplo, cerca de 87% do potássio que usamos aqui nos Estados Unidos é importado do Canadá.”
Por fim, a ASA e os produtores de soja pedem ao governo norte-americano que reconsidere as tarifas vigentes e as possíveis futuras às quais o presidente Trump fez alusão e continue as negociações com os três países que incluem soluções não tarifárias.