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Agricultura

Criação de corredor para liberar grãos da Ucrânia segue sem avanços

As exportações de milho, trigo, girassol da Ucrânia estão interrompidas desde fevereiro, quando a Rússia invadiu o país

Uma reunião entre autoridades russas e turcas para a criação de um corredor de exportação de grãos no Mar Negro terminou nesta quarta-feira (8) sem grandes avanços. As exportações da Ucrânia estão interrompidas desde fevereiro, quando a Rússia invadiu o país. Isso resultou em alta dos preços de alimentos em todo o mundo e aumentou a pressão sobre as nações mais pobres, principalmente no Oriente Médio e na África, que dependem do trigo importado.

A Ucrânia, que não participou da reunião, não deu permissão para um possível acordo entre Rússia e Turquia, e disse que precisa de garantias de que Moscou não usará esse corredor para novos ataques. Autoridades dos Estados Unidos também estão céticas em relação às negociações entre Rússia e Turquia.

Um possível acordo envolveria navios de guerra turcos removendo minas de portos ucranianos e a criação de uma passagem segura para navios que transportam trigo e outros produtos da Ucrânia. “Vemos isso como um plano razoável e viável”, disse na quarta o ministro de Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, falando ao lado de seu colega russo, Sergei Lavrov, em Ancara.

O Ministério de Relações Exteriores da Ucrânia expressou objeções à proposta do Mar Negro em comunicado na terça-feira, antes das negociações na Turquia. “Não podemos descartar os planos da Rússia de usar o corredor para atacar Odessa e o sul da Ucrânia. É por isso que são necessárias garantias de segurança efetivas para restaurar o transporte marítimo”, disse o ministério.

Uma parcela significativa da oferta mundial de alimentos está em jogo. A invasão russa deixou cerca de 20 milhões de toneladas de grãos e sementes retidas em território ucraniano. Esse volume foi confiscado pela Rússia ou isolado dos portos do Mar Negro por onde as commodities são normalmente exportadas. O bombardeio de estradas, pontes e outras estruturas pela Rússia, juntamente com o bloqueio de portos da Ucrânia, aumentou os obstáculos para a retirada de grãos do país, dizem autoridades e agricultores ucranianos.

Após a reunião, Lavrov usou sua entrevista conjunta com Cavusoglu para culpar a Ucrânia pelos atrasos na liberação dos grãos. Autoridades ucranianas acusaram a Rússia de transformar alimentos em armas e alertaram que a estratégia atual do país é transferir para a Ucrânia a culpa pela crise de grãos.

Cavusoglu reiterou que a Turquia está pronta para sediar uma reunião envolvendo Turquia, Rússia, Ucrânia e Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a questão dos grãos. Lavrov minimizou a reunião proposta, chamando-a de simbólica.

A rota do Mar Negro é uma das várias opções que os EUA e outras nações ocidentais estão considerando para exportar o trigo retido na Ucrânia. Um plano alternativo envolveria a exportação de grãos por via férrea através de Belarus. Essa opção também encontrou resistência de líderes ucranianos que se opõem ao levantamento das sanções a Belarus, que é aliada da Rússia no ataque à Ucrânia.

Em Washington, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse aos legisladores que a guerra na Ucrânia está elevando os preços globais da energia e afetando a oferta de alimentos. Ela observou que os preços de trigo, milho e óleo de cozinha aumentaram significativamente.

A Turquia, um membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que tem boas relações com a Rússia e a Ucrânia, facilitou as negociações de paz entre os dois países. O governo turco provavelmente usará qualquer acordo envolvendo os grãos ucranianos para melhorar sua posição internacional. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, aproveitou o papel central de seu país – apoiando a Ucrânia militarmente, mantendo uma linha aberta com a Rússia – para promover os interesses de seu governo.

O ceticismo da Ucrânia pode deixar qualquer acordo entre Turquia e Rússia no limbo, já que a cooperação ucraniana é necessária para a remoção das minas dos portos e os arranjos para a exportação de grãos de seu território. “Enfatizamos que as decisões devem ser tomadas com a participação de todas as partes envolvidas. Rejeitaremos quaisquer acordos que não levem em conta os interesses da Ucrânia”, disse o Ministério de Relações Exteriores da Ucrânia na terça-feira.

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