Internacional

Guerra ainda não impactou entrega de fertilizantes nos portos paranaenses

No primeiro bimestre deste ano, o Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná, já recebeu quase 3 milhões de toneladas de fertilizantes;

A ação militar da Rússia em território ucraniano gera apreensões em todo o mundo. Em especial, a atividade portuária e o comércio exterior temem pelos reflexos do conflito que podem atingir o mercado e a produção no Brasil.

Como principal porta de entrada dos fertilizantes no país, a administração dos portos paranaenses acompanha o momento de tensão no Leste Europeu, com atenção.

Apesar de ainda ser cedo para saber quais serão os impactos diretos e indiretos das atividades militares na Ucrânia, como comenta o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, a situação preocupa, principalmente o segmento dos granéis de importação, especialmente dos adubos. “Para se ter uma ideia, das quase 11,5 milhões de toneladas importadas de fertilizante no ano passado, cerca de 2,35 milhões, mais de 20%, vêm da Rússia”, afirma o executivo.

A Ucrânia, segundo Garcia, não é região tradicionalmente produtora de fertilizantes. “A preocupação realmente é com a Rússia que, guerra, tende a suspender as atividades portuárias e o comércio com os países, principalmente ocidentais”, pontua o dirigente dos portos paranaenses.

De acordo com o diretor-presidente, até o momento, a guerra não provocou nenhum imprevisto no Paraná. “O mercado antecipou as compras de Belarus e da Rússia, antes da guerra, ainda no fim do ano passado. Em Paranaguá, nós temos uma capacidade estática de 3 milhões de toneladas para fertilizantes, que são usados como armazenadoras de passagem. Nós temos sentido um afogamento por conta dessa antecipação. Muito foi carregado para a safrinha, mas temos muito fertilizantes aqui”, explica.

No primeiro bimestre deste ano, o Paraná já recebeu quase 3 milhões de toneladas de fertilizantes. “Não por conta do conflito, mas por causa do embargo economico em Belarus”, conta.

Atualmente, existem 36 navios carregados com fertilizantes aguardando para descarregar em Paranaguá. “Nós estamos acostumados a lidar com essa situação, nós trabalhamos com todas as ferramentas para que essa fila diminua o mais rápido possível”, afirma.

SEGMENTO

Como explica o gerente executivo do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Décio Luiz Gomes, tanto a Rússia como o país vizinho, Belarus, são grandes produtores de fertilizantes, principalmente o cloreto de potássio.

“A apreensão é quanto os problemas logísticos para escoar esses produtos. A invasão da Rússia à Ucrânia complica ainda mais a situação que já estava delicada com a Belarus, outro importante mercado”, comenta.

Segundo Gomes, o mercado e a indústria dos fertilizantes no Brasil – assim como em todo o mundo – já estava sentido há algum tempo, quando a Rússia decidiu suspender as exportações dos produtos.

Outra situação no Leste Europeu, que também já vinha preocupando o segmento, era o impedimento imposto pela Lituânia para circulação de produtos da Belarus. O país é outra opção, além da Rússia, para o escoamento da produção de cloreto de potássio para o mundo. “Uma alternativa para o mercado brasileiro, na importação do produto, seria o Canadá, também grande produtor e exportador do cloreto”, completa.

A maioria das empresas produtoras de fertilizantes nos dois países – Rússia e Belarus –, como ainda explica Gomes, são estatais. “Ou seja, as decisões dessas empresas vão a reboque do que decidem os respectivos governos em relação ao mercado internacional”, pontua o gerente executivo.

“A redução da oferta mundial de fertilizantes certamente vai nos afetar”, comenta. A falta de produto e o aumento de preço, segundo ele, serão os principais efeitos do conflito que gera impacto, também, nas demais atividades, incluindo a agricultura e o consumo final no país.

ESCALAS

Dificilmente os portos do Paraná recebem navios com bandeiras desses países (Rússia, Ucrânia ou Belarus). Segundo o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Paraná (Sindapar), Argyris Ikonomou, a preocupação não é tanto com a mão-de-obra, no caso, das tripulações.

“A possibilidade de impacto negativo que eu consigo enxergar, no momento, seria a dificuldade, alto risco e o aumento do valor dos fretes para navios que, a partir de agora, vão escalar em portos da Rússia para carregamento de fertilizantes, por exemplo”, comenta.

No entanto, segundo Argyris, é preciso aguardar a evolução desse conflito. “Ainda é muito cedo para saber o que vai acontecer nos próximos dias”, completa o representante das agências marítimas no Paraná.

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Fertilizante no Porto de Paranaguá (PR). Foto: Cláudio Neves/AEN