Considerado um problema crônico em Mato Grosso, a falta de espaço para guardar a produção de milho que sai dos campos volta à tona nesta safra 2022/23, causando transtornos e aumento de custo nas principais regiões produtoras. Além de deixar parte dos grãos a céu aberto, os agricultores estão apreensivos com a desvalorização do cereal. A estratégia adotada em algumas fazendas para evitar lentidão e perdas na colheita foi a compra de silos bolsas.
A situação quanto a falta de espaço nos armazéns e a desvalorização do milho, que vem causando apreensão nos produtores mato-grossenses, é tema do episódio 93 do Patrulheiro Agro desta semana.
Produtor em Nova Mutum, Thierri Heineck já colheu 65% dos 800 hectares cultivados com milho. Segundo ele, os produtores na região estão se surpreendendo com a produtividade do cereal, que chega apresentar 140, 150 sacas por talhão.
“Boas produções. Claro que tem aqueles [talhões] que diminuem um pouco, mas é uma produção muito boa para a nossa região. Totalmente diferente do ano passado que tivemos talhões com prejuízo, que não conseguiu pagar o custo [de produção]”.
Em Nova Mutum, de acordo com o Sindicato Rural do município, foram cultivados aproximadamente 320 mil hectares com milho.
“Tem muitos produtores que não esperavam produzir o que está produzindo. Então, eu acredito que vamos sim ter uma produtividade melhor que a do ano passado, porque a chuva também se estendeu mais e o produtor investiu mais. O produtor tinha comprado mais adubo, semente melhor, variedade melhor e plantou dentro de uma janela melhor”, frisa o presidente do Sindicato Rural, Paulo Roberto Zen.
Desvalorização do milho preocupa
Apesar do otimismo quanto a produtividade dos milharais, da porteira para fora o cenário muda. A desvalorização do preço do cereal e a falta de espaço para guarda a produção tiram o sono do produtor. Em algumas fazendas silos bolsas estão sendo adotados como estratégia para armazenar o grão e assim evitar perdas.
“Agradeço quem inventou. É a saída para nós hoje. Não tem espaço, não tem escoamento. Aí começa a ficar difícil, porque não acha nem caminhão. Perde o grão no campo, perde qualidade, ele vai perder peso, risco de fogo. Você tem que tirar ele do campo e pôr em algum lugar. Vai para silo bolsa”, diz o presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum.
Paulo Roberto Zen possui armazém próprio em sua propriedade, com capacidade para estocar apenas metade do que ele produz. Para evitar riscos de que parte da produção tenha que ficar à céu aberto, ele revela ter investido R$ 35 mil na compra de silos bolsas.
“A armazenagem no nosso município ela está praticamente toda lotada. A colheita já está beirando seus 50% e a gente não consegue acompanhar isso na armazenagem. Muitas empresas também não querem mais investir em armazéns e o produtor não está conseguindo recurso. Às vezes consegue, mas é um recurso caro para investir em armazém na sua propriedade”, salienta.
Conforme o produtor Thierri Heineck, muito se pergunta o fato de o produtor não ter vendido lá atrás quando os preços estavam altos. Entretanto, explica ele, o agricultor não pode arriscar tanto ao comercializar a produção antecipadamente, uma vez que ele não sabe se vai produzir o esperado.
“Como é que eu vou vender um material se eu não sei se vou colher ele? Então, você vende 40%, 50% da produção que é o normal e os outros 50% você tem que deixar. E esses outros 50% que eu fiquei para trás de vender, eu estou pegando 50% menos no preço que a gente estimava em receber”.
Sorriso colhe quase 50% da safra
Município que mais produz milho em Mato Grosso, Sorriso já colheu quase metade dos cerca de 450 mil hectares destinados para o cereal nesta safra 2022/23.
O presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Sadi Beledelli, conta que nesta temporada diversos fatores contribuíram para bons resultados obtidos no campo. Além do clima, investimento em tecnologia e em materiais genéticos fazem parte deste pacote de fatores.
“Contudo, esse ano nós temos um porém diferente dos anos anteriores. É que com a baixa tanto do milho quanto da soja, o agricultor comercializou menos produto, principalmente soja, do que nos anos anteriores fazendo com que nós tenhamos muita soja armazenada, ocupando automaticamente um pouquinho o lugar do milho que estaria entrando nesses armazéns agora”.
Segundo o agricultor Tiago Stefanello Nogueira, é preciso que o produtor busque maneiras de investimento em armazenagem para que a situação não piore ainda mais.
“O produtor tem que investir em armazenagem, tem que ir atrás de recurso para isso, para viabilizar na sua fazenda, criando núcleos, cooperativas, associação de produtores. A competência do produtor está causando esse problema e a gente vê que cada ano vem piorando isso”.
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