As altas consecutivas do preço do cacau nas bolsas internacionais pode se tornar uma oportunidade para o produtor, que vem sendo melhor remunerado desde o fim do ano passado.
Recentemente, o cacau alcançou o maior preço dos últimos 50 anos. A alta é resultado do desequilíbrio entre a oferta e demanda mundial e deve se refletir para o mercado consumidor nos próximos meses.
Segundo o analista de mercado Leonardo Rossetti, o déficit na produção mundial de cacau projetado para esse ano deve ser ainda maior do que o esperado.
Isso porque o Oeste africano, de onde vem 70% da produção da amêndoa, enfrenta problemas por conta do clima e de doenças nas lavouras.
Costa do Marfim e Gana, os maiores países produtores, estão apresentando um desempenho 30% abaixo do ano passado nesta temporada, o que abre espaço para a expansão da produção brasileira.
Produção no Brasil
De acordo com a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), a Bahia foi responsável por 57% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pelas fábricas no terceiro trimestre de 2023, totalizando pouco mais de 39 mil toneladas. Junto com o Pará, o estado lidera a produção de cacau no Brasil.
A área plantada no estado esta safra deve somar aproximadamente 430 mil hectares cultivados no sul do estado e também em áreas não tradicionais, como o Cerrado baiano.
Leonardo Queiroz é produtor no Baixo Sul baiano e já tem projeto de expandir para 20 os 6 hectares que tem plantados. Ele acredita que este é o momento ideal para aumentar a produção.
“É o momento de experimentar os diversos cenários que essa cultura nos oferece para a venda. Alguns produtores já fazem o seu próprio produto, já fazem o seu chocolate”, comenta.
O Brasil produz em média de 200 a 230 mil toneladas de cacau por ano, com produtividade média de 300 quilos por hectare.
Apesar de ser o sexto maior produtor do mundo, o país é um dos poucos que tem todos os elos da cadeia do cacau, o que contribui para a autonomia de mercado.
De acordo com a presidente da AIPC, Anna Paula Losi, o momento exalta a oportunidade de investimento em novas áreas produtivas e nos diferenciais da cultura para expandir mercado.
“Se a gente chegar em uma produção de 300 mil toneladas, muito provavelmente boa parte será comercializada dentro do Brasil, porque a gente tem capacidade industrial para isso”, defende Anna Paula.
Indústria
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), Jaime Recena, afirma que o momento é de cautela e avaliação do cenário geral.
De janeiro de 2023 a março de 2024, a alta no preço da commodity no mercado interno foi de 238%, mas o consumidor ainda não deve sentir este impacto.
Segundo ele, a produção que estará disponível nesta Páscoa começou em agosto do ano passado, em outro contexto internacional da commodity.
“Esse ano a gente conseguiu registrar cerca de 115 novas receitas e são mais de 100 produtos disponíveis nesta Páscoa. Então você vê que o setor se movimenta de forma a oferecer um cardápio bastante diversificado para os consumidores”, conta Recena.
Em 12 meses, os preços na bolsa de Nova York somam alta de 228%. Esse viés pode fazer com que os produtores brasileiros ampliem a rentabilidade nos próximos meses, mas tudo vai depender do comportamento da produção mundial.
A próxima safra no oeste africano será colhida em outubro e depende do clima para alcançar bom resultado.
“Vai ser importante acompanhar o regime de chuvas em Costa do Marfim e Gana, ao longo desse período de primavera e verão no Hemisfério Norte”, conta o analista de inteligência de mercado Leonardo Rossetti.
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