Um projeto da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) quer promover a diversificação tecnológica para produtores baianos de sisal. A iniciativa quer destinar a maior parte da matéria-prima que não é aproveitada na produção de etanol e melhorar a realidade do setor.
Tapetes e cordas são algumas das variedades de produtos artesanais que são obtidos através do sisal, a fibra produzida a partir da planta Agave Sisalana.
É a partir dela que muitas famílias se sustentam, no chamado Território do Sisal, localizado no semiárido do nordeste da Bahia, que abrange 20 municípios.
De acordo com uma pesquisa da Unicamp em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo Baiano, apenas 4% da planta é aproveitada, ou seja, 96% do vegetal não é utilizado.
Essa pode ser uma oportunidade de reaproveitar o material descartado, fazendo o uso na fabricação de biocombustível, bioetanol, além de outros produtos como bioinseticidas e ração, por exemplo.
A diretora de economia sustentável da ABDI, Perpétua Almeida, explica que o projeto foi idealizado após pesquisa científica.
“Nós fomos procurados, no ano passado, pelo professor Gonçalo Pereira, da Unicamp e ele trouxe uma pesquisa que eu fiquei encantada, que é exatamente uma pesquisa de como a agave pode produzir biocombustível, etanol especificamente”, disse Almeida.
Segundo ela, o professor conseguiu identificar que a produção do agave ocupa menos espaço do que a cana-de-açúcar, logo na entressafra, pode substituir a cana-de-açúcar quando tiver dificuldades com o etanol.
Replanta Agave
Batizado de Replanta Agave, o projeto da ABDI, em parceria com o governo da Bahia, será realizado em 18 meses com projeções de beneficiar pelo menos 400 trabalhadores. O valor do convênio é de R$ 2,6 milhões.
“O projeto envolve a formação dos trabalhadores com novas técnicas, a profissionalização desses trabalhadores, desde o trabalho da terra, como é que vai ser o plantio, armazenamento, como é que eles vão se modernizar nesse processo da nova colheita, então, nós vamos pegar desde preparação do solo, semeadura, manejo, colheita, armazenagem e comercialização. É um processo inicial para você profissionalizar, você levar nova tecnologia para esses trabalhadores.”, explica Perpétua Almeida.
De acordo com a ABDI, o Brasil é o maior produtor de fibra de sisal do mundo. A Bahia corresponde sozinha por 90% do montante produzido, seguido pelos estados da Paraíba e Pernambuco a agricultura familiar é a principal responsável pelos cultivos.
Para Luiz Delfino, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Valente, o projeto traz esperança aos produtores, já que o setor passa por dificuldades e desvalorização.
É um histórico de pessoas que realmente ficam, às vezes, à margem de ações e desenvolvimento, pois o sisal ainda é subutilizado, então é uma grande esperança que vem com esse debate, com essa agência brasileira, para realmente abraçar a causa do sisaleiro, abraçar a causa do semiárido nordestino”, conta Delfino.
Membro da Câmara Setorial do Sisal, ele também destaca os desafios que inviabilizam o crescimento da produção na região.
“Nós precisamos de apoio governamental em diversas ações. Percebemos que, na hora da crise, precisamos de um preço mínimo subsidiado pelo governo, a compra do produto para, assim, socorrer à indústria de uma forma geral. Estamos precisando, com urgência, a construção de armazém de sisal, depósito de sisal, para, sim, absorver a produção, o excesso nos períodos que não tem exportação. O que fazer com essa produção?”, questiona Luiz Delfino.
Em queda
Apesar do potencial produtivo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2012 a 2022, houve uma redução da área plantada, passando de 258.964 mil hectares para pouco mais de 98.795 ha.
A redução também impactou na queda de 150 mil postos de trabalhos diretos e indiretos. De acordo com a Embrapa, diferentes estimativas apontam que cerca de 700 mil pessoas vivem da renda do sisal na Bahia.
Para o pesquisador da Embrapa Algodão, Gilvan Barbosa Ferreira, estudos com o Agave Tequilano, endêmico no México, pode aprimorar a produção e eficácia da matéria prima paraa fabricação do etanol.
“Ajudar na produção e redução de custo na Bahia, que o negócio está bem feio. O preço do sisal caiu e os produtores estão bem desestimulados nesse momento. Esse o formato que a gente está pensando em desenvolver e introduzir no Brasil, essa tecnologia do Agave Tequilano para produção de álcool e também usar essa nova demanda que a sociedade tem por álcool, para nossos agaves, que nós já estamos com ele no campo.”, conta.
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