Foi na tradicional feira que acontece todos os dias (exceto domingo) no centro de Barreiras, no oeste baiano, que encontramos a Luciene Rodrigues Souza, de 39 anos. Às terças, quintas e sábados, ela marca presença no tradicional comércio ao ar livre para vender diferentes tipos de hortaliças.
A história da Luciene na roça, começa com a mãe dela, a dona Marlucia Silva Souza, de 68 anos. O trabalho duro das duas é feito com muito amor e dedicação, bem no quintal de suas casas, no povoado de Canabrava.
Para o Dia Internacional da Mulher Rural, comemorado no próximo domingo (15), o Canal Rural Bahia conta a história de duas mulheres que traduzem a força feminina no campo e representam milhares de mulheres rurais.
Inspiração
Natural de Piracanjuba (GO), dona Marlucia tem três filhas e vive na oeste da Bahia, há 40 anos. A inspiração dela para plantar, colher e vender, assim como também faz a filha, vem de uma grande mulher na vida da agricultora.
“A minha avó foi a minha inspiração… Era uma senhora trabalhadora, trabalhava duro porque na época não tinha isso, essas coisas que tem hoje, né? Fazia tudo, andava a pé, pegava água com a lata na cabeça”, conta a agricultora emocionada ao lembrar da avó.
Além disso, para ela, a horta de quase 2 hectares, funciona como uma terapia: “Quando eu cheguei aqui, na minha horta, me dá um outro ânimo. Acho que a gente tem que lutar por o que a gente ama a fazer. Eu hoje estou com meus 68 anos, já vou completar 69, mas amo o que faço.”
Inspiração que vem passando para as mulheres da família, Luciene conta que lembra de frequentar a feira desde os seus 12 anos.
“Desde os meus 12 anos eu já ia para a feira com ela, nessa época era carroça. Na verdade isso foi uma opção minha trabalhar na roça, né? Estudei, fiz segundo grau, e meus meninos também estudam. Estou ajudando eles a estudar, se eles quiserem trabalhar na cidade… Eu preferia que eles ficassem aqui na roça comigo”, conta a produtora.
Faltam dados
Assim como a dona Marlucia e a Luciene, existem outras milhares de mulheres rurais. No entanto, ainda falta pesquisa sobre esse público. De acordo com o Observatório das Mulheres Rurais, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Ministério da Agricultura (Mapa), o último levantamento é de 2017.
Dados sobre a presença das mulheres rurais no campo, de acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE:
- Mulheres dirigentes de estabelecimentos rurais: 946.075
- Mulheres em codireção: 817.019
- Total de mulheres dirigentes: 1.763.094
- Mulheres trabalhadoras rurais ocupadas: 4,37 milhões de mulheres
- Total de mulheres no campo: 6,14 milhões de mulheres
“Dentro da agricultura, aparentemente, às vezes fica essa coisa de que parece que todo o resultado da agricultura, deriva do trabalho masculino, mas não é verdade. A mulher, ela também faz esse papel. Além de todo o trabalho que ela tem em casa, com a família e tudo, ela também se envolve com a parte produtiva e vai pro campo. Desde a parte mais básica até o final ela está envolvida”, explica Cristina Arzabe, pesquisadora da Embrapa.
Com ou sem estatísticas, o fato é que elas derrubam qualquer estereótipo e mostram a força de serem mulheres rurais. “Quem disse que nós somos fracas? Nós somos mais fortes, com certeza!”, enfatiza Luciene.
Por fim, com muita simpatia, cantarolando e adaptando o sucesso do saudoso, Erasmo Carlos, dona Marlucia finalizou a entrevista enquanto seguia limpando a roça: “Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira “cabeçuda”(…) mulher, mulher.”.
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